Brasil não aproveita predominância urbana, diz professor da FGV

21/08/2012 - 20h43

Akemi Nitahara
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – Com 85% da população morando nas cidades, o Brasil ainda não aproveitou as vantagens dos centros urbanos e incorreu nas desvantagens de ter essa conformação geográfica. A opinião é do professor Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Para ele, o processo de urbanização pelo qual o país passou poderia facilitar a oferta de serviços, mas, ao contrário, o que ocorreu foi o crescimento desordenado, com inchaço dos centros urbanos sem infraestrutura, até uma década atrás.

Ele discorda da projeção de que o Brasil vai ter 90% da população urbana em 2020, conforme aponta o relatório Estado das Cidades da América Latina e do Caribe, divulgado hoje (21) pelo Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat).

“Me surpreende essa perspectiva, não é a minha projeção. Oitenta e cinco por cento já é um número altíssimo, mas eu não acho que a população rural vai cair de 15% para 10%, até porque a renda cresceu mais no campo, entraram programas sociais, novas políticas como o Territórios da Cidadania. O próprio Brasil sem Miséria tem um foco grande na pobreza rural, o aumento do salário mínimo, o custo de vida é menor no campo. Não vejo esse processo de urbanização continuar até 2020”, diz o professor.

Para Neri, apesar da crise econômica na Europa e a crise de 2008, a situação do Brasil agora é melhor do que nas grandes crises anteriores. “As grandes cidades não estão em uma crise metropolitana, como estavam de 97 até 2003, época das crises externas. Elas não vivem um processo de deterioração, de desemprego. Eu vejo um processo de crescimento da renda, até maior nas favelas”.

Neri considera que os problemas enfrentados pelas grandes cidades do Brasil não são críticos e, sim, crônicos, resultado da forma como a urbanização foi feita. Para o futuro, o professor da FGV estima que o país pode viver um “otimismo condicionado”.

“O Brasil gera muitas lições do que não fazer e, mais recentemente, do que pode ser feito. As UPPs [unidades de Polícia Pacificadora] são um exemplo interessante no contexto latino-americano, um pouco de melhora na mobilidade urbana, saneamento, moradia, a própria questão da pobreza. A gente tem grandes programas e grandes problemas. Agora, se os programas vão conseguir dar respostas aos problemas, só o tempo vai dizer. Mas eu acho que o Brasil tem condição de dar saltos”, previu.

Edição: Lana Cristina