Atualizada - Advogado de Jacinto Lamas sugere que ministros do STF separem "mensaleiros de mensageiros"

10/08/2012 - 20h14

Débora Zampier
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O advogado Délio Lins e Silva Junior, que defendeu o ex-tesoureiro do PL Jacinto Lamas no julgamento do mensalão, admitiu hoje (10) que o esquema pode ter existido, mas sem a participação de seu cliente. Em uma linha de defesa destoante da maioria dos advogados, ele disse que os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) têm que separar os "mensaleiros dos mensageiros".

“Vocês viram a maioria dos advogados dizer que não existiu [o mensalão]. Se existiu ou não, Vossas Excelências decidam. Vocês que têm essa responsabilidade. O que me cabe é mostrar aqui que, se existiu, Lamas não participou”, disse o advogado. O ex-tesoureiro responde pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção passiva, e 40 vezes pelo crime de lavagem de dinheiro.

Jacinto é acusado de receber R$ 1 milhão do mensalão em nome do então presidente do PL (atual PR), Valdemar Costa Neto. A defesa admite que o ex-tesoureiro fez sete saques em nome do presidente do partido, mas que ele desconhecia a origem ilegal do dinheiro. “Ele achava que era para Valdemar Costa Neto pessoa física e, não, do partido. Razão pela qual, inclusive, o dinheiro não precisava ser contabilizado no partido”.

Lins e Silva citou o ex-presidente Luiz Lula Inácio da Silva para reforçar a tese de que Lamas desconhecia o funcionamento do mensalão. Enquanto Roberto Jefferson, que denunciou a existência do esquema, afirmou que Lula sabia de tudo, contra Jacinto Lamas não há um testemunho sequer de participação.

“Por que é tão fácil acreditar, quando ele [Lula] diz que não sabia de nada e tão difícil acreditar em Jacinto Lamas, quando ele diz que de nada sabia e não tem depoimento nos autos dizendo o contrário?”, indagou. Lins e Silva ainda questionou por que assessores de outros políticos, que também fizeram saques, não foram denunciados.

O advogado defendeu que seu cliente não seja processado por corrupção porque nunca teve envergadura política para influenciar nas votações do partido. “Era um zero à esquerda em termos políticos e quem diz isso não sou eu, são os autos. Tinha papel figurativo, apenas assinava quando preciso”.

De acordo Lins e Silva, a principal função de Jacinto era cuidar da propaganda do PL, enquanto quem “mandava e desmandava naquele partido, como manda e desmanda até hoje”, é Valdemar Costa Neto. “Ele controlava desde a compra de uma caneta ou café até as votações”, ressaltou.

Lins e Silva usou o que considera contradições no depoimento do publicitário Marcos Valério para negar que seu cliente tenha intermediado acordo entre a agência de propaganda SMP&B e a Garanhuns. Segundo o Ministério Público Federal, o contrato entre as empresas foi de fachada, com o objetivo de dissimular o repasse de verbas do mensalão para o PL. Valério foi o único que implicou Jacinto no esquema, mas voltou atrás ao depor na Justiça.

O advogado ainda defendeu a legalidade da evolução patrimonial de seu cliente, questionada pelo Ministério Público, informando que, em 2000, ele ganhou dois imóveis de herança. “Jacinto não recebeu um tostão furado desse suposto esquema”.

Edição: Lana Cristina//A matéria foi ampliada às 20h10