Há 12 anos, cooperativa começou a mudar vida de vendedores ambulantes do Parque Ibirapuera

28/07/2012 - 13h14

Bruno Bocchini
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Ex-moradores de rua, analfabetos funcionais, desempregados sem formação profissional e trabalhadores informais se juntaram, há 12 anos, para fundar a Cooperativa dos Vendedores Autônomos do Parque Ibirapuera, em São Paulo, que hoje reúne 115 ambulantes. A iniciativa mudou a vida deles.

Antônia Cileide de Oliveira de Souza, de 47 anos, nascida em Tamboril, no Ceará, é uma das pessoas cuja vida deu uma guinada após a implantação da cooperativa. A vendedora ambulante conta que há 12 anos, sem a ajuda do marido para criar os quatros filhos, tirava o sustento da família com a venda, inicialmente, de algodão doce. Depois, diversificou o negócio com refrigerantes, água e amendoim.

Por meio da cooperativa, destaca, os ambulantes conseguem preços melhores junto aos fornecedores. Além disso, os associados estão legalmente constituídos e não há mais razão para temer a fiscalização.

As melhorias, diz Antônia, ajudaram, principalmente, na educação dos filhos. “Eu tenho um filho que já foi até para a Espanha, graças ao curso que fez no Senai [Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial]”, falou orgulhosa. Foi uma passagem curta por aquele país, de apenas 40 dias, em viagem de trabalho, mas que rendeu “um currículo rico”.

Outra fundadora da cooperativa, Lindalva Conceição, de 59 anos, 28 deles trabalhando como vendedora ambulante, lembra do tempo, antes da existência da cooperativa, em que morava em um porão com a filha e tinha que trabalhar nas ruas em condições precárias para garantir o sustento.

“Cheguei a trabalhar até dentro de saco, por causa do tanto frio que era. O que eu não consegui trabalhando em casa de família, consegui dentro do parque com a cooperativa. Consegui comprar minha casinha. Eu comecei no parque. Morava em um porão, eu e minha filha. Era um porão que só cabia um colchão no chão. Não tinha nada. As roupas ficavam fora, fogão nem tinha”, diz.

Economia solidária - A economia solidária, que passa praticamente despercebida por boa parte da sociedade, gera renda para 2,3 milhões de pessoas no país e movimenta, em média, R$ 12,5 bilhões por ano, segundo a Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes).

O Ministério do Trabalho e Emprego define a economia solidária como uma forma “diferente de produzir, vender, comprar e trocar o que é preciso para viver. Sem explorar os outros, sem querer levar vantagem, sem destruir o ambiente. Cooperando, fortalecendo o grupo, cada um pensando no bem de todos e no próprio bem.”

No país, existem 30.829 empreendimentos econômicos solidários, como cooperativas, associações e empresas autogestionárias, e o faturamento deles chegou a 0,33% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2010 (R$ 3,7 trilhões). De acordo com a Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), houve um acréscimo de 88% de pessoas inseridas na economia solidária entre 2005 e 2011.

Segundo a pedagoga e advogada Vivian Vieira, responsável pela administração da cooperativa, além do aspecto econômico, o empreendimento contribuiu para a melhoria social de seus membros. “Todos da cooperativa do Ibirapuera progrediram. Para você ter uma ideia, o filho dos cooperados puderam fazer o segundo e terceiro grau porque os pais entenderam a importância de se organizar, de levar seu filho para estudar. Na nossa terceira geração de cooperados, temos crianças que os pais entendem que a educação é o melhor instrumento. Eles fazem o maior sacrifício para pôr os filhos em uma escolinha particular, para que sejam alguém no futuro”, diz Vieira.

A história dessa cooperativa virou o livro Cooperativa, que será lançado no dia 4 de agosto. “É um história muito bonita, porque é uma história sobre pessoas, com uma formação cultural mínima, de como eles conseguiram, de uma iniciativa própria deles, se organizar, e trabalhar conjuntamente em benefício de todos”, declara a autora, a jornalista Mônica Dallari.

De acordo com Mônica, os fundadores vêm de uma situação de grave exclusão social, a maioria veio do Norte e Nordeste. “Trinta por cento jamais entraram em uma sala de aula, 70% são analfabetos funcionais e 90% começaram a trabalhar antes dos 12 anos. São, em sua maioria, mulheres chefes de família, que tiveram de criar filhos sem auxílio dos maridos”.

Edição: Fábio Massalli