Ativista indiana defende ação global em defesa de sementes tradicionais

19/06/2012 - 17h20

Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – A ambientalista e física indiana Vandana Shiva convocou hoje (19) uma ação global para proteger sementes tradicionais de mudanças genéticas e de patentes. Ao participar de debate na Cúpula dos Povos, Shiva criticou multinacionais como a Monsanto, responsável por mudanças genéticas em sementes vendidas aos agricultores, e voltou a dizer que não está otimista quanto à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20.

Especialista em física quântica, Vandana Shiva, abriu a palestra com um breve resumo de sua trajetória. Ela contou que começou a se interessar pela causa em 1984, quando houve perdas na agricultura na região do Punjab (Revolução Verde), depois da adoção de sementes híbridas, que não tiveram a produtividade esperada, e do desastre em uma fábrica de pesticidas, que contaminou a água e a terra.

Segundo a ativista, mais de 30 mil mortes pessoas morreram nos dois episódio e muitos agricultores se suicidaram porque não tinham como pagar por suas perdas. Ela constatou, então, que era preciso proteger as sementes e o modelo tradicional de produção. O receio, na época, era de que a "ganância” das empresas, que começavam a lucrar com a venda dos grãos modificados, fertilizantes e pesticidas, tirasse a autonomia dos agricultores, como acontece agora, disse.

“Eles achavam que estavam salvando as sementes, mas, basicamente, estavam tirando dos agricultores. Ter a própria semente, e não uma modificada, passou a ser crime. Donas das sementes, as empresas passaram, então, a coletar milhares de dólares de quem não tinha mais as [sementes] tradicionais e alimentar um sistema no qual muitas pessoas não tinham como produzir.”

Autora do livro Violência da Revolução Verde, a ambientalista disse que as experiências em todo mundo mostram que as sementes modificadas  não são uma panaceia. “Não são resistentes às mudanças climáticas, não asseguram aumento da produção e não são mais resistentes a pragas. Pesquisas mostram que as sementes originais são mais resistentes”, afirmou Shiva.

A organização liderada por ela, Navdanya, lança campanha para “desmascarar” as multinacionais e alertar a população para preservar  as  tradicionais. “O que chamam de primitivo [as sementes tradicionais], é superior, é melhor e tem o poder de alimentar. Já a semente tóxica, que é suicidada, mata, causa doenças e não está funcionando”, afirmou a ativista. "Fizemos um relatório sobre esses sementes e mostramos que tudo é o oposto do que eles vendem. Acreditamos na liberdade, não na união, não nas patentes.”

Durante o debate, Vandana Shiva também voltou a criticar a Rio+20, da qual não espera acordos audaciosos. Para ela, os negociadores estão com o pensamento limitado. “Eles querem um planeta preto, mas nós vamos esverdeá-lo”, disse, ao lançar o livro Visions of the Living Earth, com textos de ambientalistas de todo o mundo.

Por fim, a ativista lembrou que a Monsanto perdeu, no início da semana, uma ação no Superior Tribunal de Justiça questionando a cobrança de cerca de R$ 15 bilhões em royalties pelo uso de sementes transgênicas de soja. Com a decisão, agricultores poderão reservar sementes para replantio, vender produtos como alimentos e trocar de sementes sem cobrança de taxas.

O livro lançado hoje tem texto de Maurice Strong, um dos organizadores da Eco92, da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, do teólogo Leonardo Boff, a ativista Ela Gandhi, neta de Mahatma Gandhi, e de mais 36 especialistas.

Acompanhe a cobertura multimídia da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) na Rio+20.

Edição: Nádia Franco