Crise financeira internacional pode ser entrave para Rio+20, diz presidente do BNDES

11/06/2012 - 17h39

Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, disse hoje (11) que a crise financeira internacional pode ser um entrave para o sucesso da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que começa na próxima quarta-feira (13), no Rio de Janeiro.

“A Rio+20 se realiza em um momento pouco propício. As principais economias estão voltadas para um processo de resistência à recessão e ao agravamento da crise, que reduz a capacidade de manobras no campo fiscal e o grau de flexibilidade para que possam contribuir de maneira razoável com os desafios que se colocam para a sustentabilidade global”, declarou o presidente do BNDES, durante a abertura da Conferência Ethos Internacional, que segue até o dia 13 e reúne, em São Paulo, empresários que vão definir uma plataforma empresarial para a conferência da ONU.

Coutinho, no entanto, propõe o desenvolvimento sustentável como um dos eixos para a superação da crise. “A crise atrapalha porque os países estão todos focados em seus próprios problemas, de desemprego, de desorganização fiscal. Ao mesmo tempo, pode ser uma oportunidade se nós soubermos persuadir as lideranças internacionais que o investimento, para o desenvolvimento social e ambiental sustentável, deve ser um eixo para a recuperação da economia mundial”, sugere. Ele aponta como setores fundamentais nesse sentido os investimentos em infraestrutura e energia.

De acordo com o presidente do BNDES, o banco irá participar, durante a Rio+20, de um encontro com lideranças de bancos de desenvolvimento de todo o mundo. “É uma instituição de cooperação nova, o International Development Finance Club [IDFC]. Estamos tentando criar um compromisso durante a conferência para que todos os bancos trabalhem para ser um canal de propulsão dessa agenda sustentável”, declarou. O IDFC foi criado em janeiro deste ano, durante o Fórum Econômico Mundial.

Coutinho defendeu também a criação de padrões internacionais para a produção, de forma a permitir iniciativas sustentáveis sem criar desequilíbrios competitivos. “É preciso pactuar e é preciso que a liderança privada se engaje de forma proativa, também em articulação com os governos”. Essa opinião também é compartilhada pelo Instituto Ethos e faz parte das propostas do Nosso Rascunho Zero – documento com nove compromissos de ação dos empresários, que está sendo discutido na conferência em São Paulo. O nome da plataforma faz referência ao documento da ONU.

“Temos a proposta de que as empresas operem com seu melhor padrão em qualquer lugar que estiverem. Em muitos casos, as empresas deslocam suas plantas para países ou regiões em que a exigência [ambiental] da sociedade é menor. As empresas sustentáveis terminam competindo com empresas que puxam o padrão para baixo. Assim, você desvaloriza o capital social, ambiental, humano só em benefício do capital econômico e financeiro”, explica Paulo Itacarambi, vice-presidente do Instituto Ethos.

As propostas do Nosso Rascunho Zero ainda passarão pela discussão e aprovação dos conferencistas, mas já têm 110 empresas signatárias. As demais propostas tratam de compromissos como a ecoeficiência, investimentos em inovação, desenvolvimento territorial, redução das desigualdades, melhoria da governança, aperfeiçoamento do sistema político, estabelecimento de metas e compromisso com educação, valores e cultura.

O documento possui, ainda, nove demandas aos chefes de Estado e de governo. “Para as empresas conseguirem realizar esses compromissos, sem perder em competitividade, é preciso aprovar uma série de questões que estão em pauta na Rio+20”, declarou o vice-presidente do Ethos. As propostas das empresas serão encaminhadas ao governo brasileiro, por meio do ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, que participa da plenária de encerramento.

Edição: Lana Cristina