Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Transformar restos de comida em adubo e energia para aquecimento de água, com baixo custo, é a meta de uma pesquisa da Fundação Osvaldo Aranha (UniFoa), em parceria com a prefeitura de Volta Redonda, sul fluminense, o Instituto de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) e o governo do estado.
A partir do material orgânico descartado de um restaurante popular estadual, o coordenador do estudo Roberto Guião e alunos da engenharia ambiental da Unifoa misturam sobras de refeições com o resultado de podas e aparas dos vegetais em um processo de compostagem (decomposição de materiais orgânicos para transformá-los em adubo por meio da atuação de bactérias que também geram calor). Os resultados até o momento são animadores, de acordo com o professor.
“O processo de compostagem tem mais de cinco mil anos. A novidade é tentar fazer o aproveitamento energético dela para aquecer a água. Já conseguimos 30 graus Celsius de ganho de água em relação à temperatura ambiente. Ainda é pouco para manter uma residência ou estabelecimento aquecido, mas já poderia poupar energia, e a pesquisa ainda está em curso. Os resultados são promissores”.
Com a técnica, o processamento dos resíduos sólidos orgânicos para fins de adubo e de energia poderá ser feito pelo próprio estabelecimento sem grandes custos, com um mínimo de emissões de metano possíveis.
O professor lembrou que os restos de alimentos representam mais de 50% do total dos resíduos orgânicos sólidos gerados diariamente no Brasil, sendo os principais responsáveis por emissões de gases de efeito estufa e pelo chorume nos aterros sanitários que contaminam o solo.
O adubo seria usado em jardins e áreas de reflorestamento. “Esse adubo orgânico evita a produção de fertilizantes que são produzidos à base de petróleo e minimiza a utilização de caminhões para a coleta de lixo. Enfim é um somatório de ganhos ambientais”, explicou o professor.
Se confirmada a viabilidade do projeto, a ideia é implantar o sistema gradativamente nos 16 restaurantes populares do estado e futuramente em outros órgãos do governo onde se produz grande quantidade de material orgânico, de acordo com a superintendente de Segurança Alimentar da Secretaria estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, Cláudia Regina de Azevedo Fernandes. “Além de evitar o descarte de resíduos do solo, minimizando a erosão e transformando o lixo em adubo e energia, o projeto vai representar economia para os cofres públicos.”
Ela explica que, se os resultados forem positivos, a metodologia poderá ser implementada também em presídios, escolas e em locais com fornecimento de refeições diárias em grandes quantidades.
De julho a dezembro, o pesquisador dará sequência à segunda etapa da pesquisa na Universidade de Dresden, na Alemanha, para buscar a viabilidade da utilização desse tipo de compostagem caseira na geração de biogás. “Se esse material orgânico, depois de gerar calor, for colocado em um outro equipamento, sem oxigênio, ele começa a gerar o biogás rico em metano, ou seja, um duplo aproveitamento energético. Dessa sobra ainda será possível produzir adubo”, explicou o engenheiro.
Edição: Talita Cavalcante