Ambientalista apoia reuso da água no Comperj, mas critica degradação da Baía de Guanabara

26/05/2012 - 11h39

Nielmar de Oliveira
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - O ambientalista e biólogo Mário Moscatelli apoia a decisão do projeto de reuso da água da Estação de Tratamento de Alegria para fins industriais, no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), mas critica as condições ambientais da Baía de Guanabara.

Especialista no sistema de lagos do estado do Rio, Moscatelli disse que qualquer tipo de remoção de carga orgânica da baía será sempre bem-vinda, seja no Comperj ou em qualquer outro sistema. “A decisão de reutilizar a água tratada é bem-vinda, nota 10, mas é preciso lembrar que a petroleira é justamente uma das empresas responsáveis, em boa parte, pela degradação da baía".

Em entrevista à Agência Brasil, o ambientalista admitiu que a iniciativa contribuirá para a melhoria das condições ambientais da área, prejudicada, segundo ele, "por gestões anteriores que utilizaram mal os recursos destinados pelo banco de fomento do governo japonês, jogando fora milhões de dólares, uma vez que as águas continuam com alto índice de poluição".

Moscateli, que também é mestre em ecologia e professor de gerenciamento de ecossistemas do Centro Universitário da Cidade, acrescentou que boa parte da situação atual de poluição que afeta as águas da baía é decorrente da “falta de responsabilidade” do gestor com os recursos públicos. “Na Baía de Guanabara, por exemplo, foram gastos mais de US$ 1 bilhão e estão chegando mais alguns milhões".

Moscatelli acredita que a proximidade da Rio+20, a Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que será realizada em junho, é uma oportunidade única para retomar a discussão sobre os problemas da poluição da baía, de modo que suas águas possam realmente chegar às Olimpíadas de 2016 prontas para se tornarem um dos cenários de destaque durante as competições.

“Se algo tem que ser feito para que o país chegue a 2016 tendo cumprido os compromissos assumidos com o Comitê Olímpico Internacional (COI), com vistas aos Jogos Olímpicos que acontecerão na cidade, é preciso começar agora, e será fundamental, para que isso ocorra, que se utilize com inteligência os recursos disponíveis”.

O subsecretário executivo de Projetos e Intervenções Especiais do governo do estado do Rio, Antônio da Hora, avalia que a despoluição da Baía de Guanabara passa, necessariamente, pela melhoria do saneamento básico do seu entorno, por meio do tratamento dos efluentes. Ele lembrou que hoje o entorno da baía encontra-se bastante poluído pela enorme quantidade de esgoto que ainda é jogada em suas águas.

Responsável pela execução das obras do Canal de Cunha, um dos muitos que deságuam na baía, o subsecretário ressaltou o fato de que o projeto vai contribuir  para que seja dado “o passo maior”, que é a conclusão das obras de despoluição. “Lá foram desassoreados e recuperados cerca de 180 mil metros quadrados de manguezais. E o êxito do projeto foi importante e simbólico para o processo de despoluição. porque comprovou, na prática, ser possível fazer um trabalho de dragagem que leve à despoluição do canal”.

Paralelamente ao desenvolvimento de ações que melhorem o saneamento básico na região, como a de reuso da água da Estção de Tratamento de Esgoto de Alegria, da Hora defende a necessidade de atacar a questão da coleta de lixo no entorno da baía.

“O governo e as prefeituras já vêm realizando esse trabalho. Os diversos lixões que ainda existem no entorno estão sendo aos poucos removidos. O Aterro Sanitário de Gramacho, por exemplo, vai ser fechado pela prefeitura do Rio. São Gonçalo tinha o lixão de Itaoca e agora dá melhor tratamento ao seu lixo. Outros municípios, como Niterói e Nova Iguaçu, também estão cuidando melhor do seu lixo. Como consequência, há uma redução importante da carga de contaminação que chegava às águas da Baía de Guanabara”, disse.

Antonio da Hora lamentou que, apesar dos avanços, ainda há muito a ser feito no que diz respeito ao saneamento básico para despoluir as águas da baía, onde, segundo ele, “mais de 60% do esgoto do entorno ainda não têm tratamento adequado”.

Edição: Graça Adjuto