Paulo Virgilio
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – O Quartel-General da Polícia Militar, localizado na Rua Evaristo da Veiga é um dos prédios mais importantes para a história da cidade do Rio de Janeiro e também para a história do Brasil. A avaliação é do professor Milton Teixeira, que considera “um assombro” a notícia da negociação entre a Polícia Militar do Rio e a Petrobras para a venda do terreno, no centro da cidade, hoje ocupado pelo centenário prédio do QG.
“Em hipótese alguma poderia ser cogitada essa demolição”, disse Teixeira, especialista no tema e um dos criadores do projeto Conheça o Rio a Pé, que conta, em passeios gratuitos, a história da cidade a cariocas e turistas.
Segundo o professor, são inúmeras as referências históricas do local e do prédio. “Ali, existiu o antigo convento dos padres capuchinhos italianos, construído em 1740. Nesse convento, foram plantadas, em 1760, pela primeira vez no Brasil, mudas de café, cultura que viria a se tornar a grande riqueza nacional no século 19. Em 1831, o convento dos capuchinhos foi ocupado pela polícia e tornou-se a instalação policial mais antiga existente na cidade”.
Em 1852, o antigo edifício do quartel foi palco da primeira experiência com o telégrafo com fio, um marco na história das telecomunicações no país. O prédio atual teve sua pedra fundamental lançada pelo imperador dom Pedro II no dia 12 de novembro de 1889, três dias antes da Proclamação da República. Milton Teixeira destaca ainda a importância da capela de Nossa Senhora das Dores, que existe dentro do QG da PM. “É uma das joias da arquitetura religiosa da cidade e era frequentada pela Família Imperial”.
Embora não tenha concretizado ainda a negociação, a Petrobras confirmou ontem (22), por meio de sua assessoria, já ter “formalizado a intenção de compra do terreno, pelo valor de R$ 336 milhões”. A empresa pretende construir, no local, um edifício que abrigue suas várias subsidiárias, hoje distribuídas por mais de uma dezena de prédios na cidade.
“É com consternação que recebo a notícia da venda do prédio, para que a Petrobras bote abaixo e construa ali mais um arranha-céu de concreto e vidro em área nobre do centro histórico da cidade. É o fim da picada”, desabafou o historiador. Ele lembrou que o quartel está em área de preservação histórica e patrimonial, por causa da proximidade com o Theatro Municipal.
Milton Teixeira também considera importante, do ponto de vista histórico, a conservação do prédio do quartel da PM do bairro da Tijuca, na zona norte do Rio, datado de 1903, que a PM também quer vender. “Ali, foi o local para onde muitos presos políticos foram levados na época da ditadura”. Já os quartéis de Botafogo e do Leblon, outros cogitados para venda pela corporação são, segundo o professor, prédios modernos, sem valor histórico ou arquitetônico.
Segundo a Secretaria Estadual de Segurança, a venda do QG da Rua Evaristo da Veiga é “apenas o primeiro passo de um amplo projeto de reestruturação dos batalhões e da sede administrativa da Polícia Militar”. O objetivo seria dotar a PM de instalações modernas e mais adequadas ao seu trabalho.
Além de investigada pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), a transação entre a Polícia Militar e a Petrobras pode esbarrar em dois projetos de tombamento do QG, em tramitação na Câmara Municipal do Rio e na Assembleia Legislativa. Os autores, vereador Carlo Caiado (DEM) e deputado estadual Paulo Ramos (PDT), informaram já ter acertado a votação de seus textos na próxima semana, para impedir a venda.
Edição: Lana Cristina