Situação de moradores de rua é de medo e revolta, denunciam integrantes dos movimentos de defesa

15/03/2012 - 21h20

Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil

Brasília - Mulheres idosas violentadas. Pessoas espancadas, incendiadas, humilhadas, maltratadas por agentes públicos. E mortas. “Esta é a situação que os moradores de rua estão vivenciando todo santo dia”, disse Maria Lúcia Pereira, uma das representantes do Movimento Nacional da População em Situação de Rua que participaram da reunião extraordinária do Comitê Intersetorial de Monitoramento da População em Situação de Rua.

Além de integrantes do movimento em cinco estados e no Distrito Federal (DF), participaram da reunião hoje (15), em Brasília, a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, e representantes de vários ministérios. Inicialmente, o encontro estava marcado para o fim do mês, mas foi antecipada após um comerciante ter contratado um grupo de jovens para matar dois moradores de rua na cidade de Santa Maria (DF).

Visivelmente emocionados, os integrantes do movimento nacional cobraram maior atenção do Estado para conter a violência contra os moradores de rua. Segundo o Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua e Catadores [CNDH], criado no ano passado, pelo menos 165 moradores de rua foram assassinados no Brasil entre abril de 2011 e a semana passada.

Na maioria dos casos (113), a polícia não tem pistas dos criminosos. E, enquanto o comitê intersetorial discutia o teor da carta de repúdio aos crimes divulgada há pouco, um novo caso foi registrado na cidade de Linhares, litoral norte do Espírito Santo, onde um jovem de 16 anos ateou fogo em quatro moradores de rua.

“Chegamos ao ponto de um safado pagar R$ 100 para atear fogo a uma pessoa viva, um morador de rua que estava dormindo”, disse Maria Lúcia, ao falar do recente caso de violência no Distrito Federal. “Há dois anos estamos chamando a atenção para tudo o que vem acontecendo e para os efeitos não só da falta de políticas públicas destinadas à população de rua, mas também para os que a Copa do Mundo e todas as ações de higienização trariam à população de rua”, completou.

Ela também criticou as operações como a ocorrida na cidade de São Paulo para coibir o uso do crack na região conhecida como “cracolândia”. “Jogaram os lobos e os chacais contra nós, associando a população em situação de rua ao combate ao crack e dizendo que nosso caso é de polícia”.

Para o representante paulista do Movimento Nacional de População de Rua, Anderson Lopes, o atual momento é muito triste. “Não quero mais abrir meus e-mails, pois todo dia eu recebo notícias de mortes [violentas] de moradores de rua. No Distrito Federal isso chegou ao conhecimento da imprensa porque os dois companheiros queimados têm famílias que denunciaram o caso à imprensa. Senão, seria mais um corpo recolhido e enterrado como indigente. É triste. É lamentável. Queremos uma ação enérgica do governo federal e o fortalecimento do CNDH”.

Ao ouvirem da ministra Maria do Rosário que o governo brasileiro tem “orçamento e condições, mas precisa da ajuda de estados e municípios”, Maria Lúcia e Lopes criticaram às prefeituras. “Se não chamar os prefeitos para que eles assinem um termo de compromisso pela vida da população em situação de rua, vamos estar dando murro em ponto de faca. Os prefeitos não estão nem aí para a população em situação de rua. Colocam um grupo em um ônibus e mandam para outra cidade”, disse Maria Lúcia, criticando leis municipais que punem moradores de rua por vadiagem.

Outro representante do movimento nacional, do Espírito Santo, Samuel Rodrigues, reivindicou mais recursos para equipamentos públicos de atendimento aos moradores de rua. “Tivemos alguns avanços, mas, infelizmente, estamos precisando interromper a discussão sobre como oferecer saúde, habitação e recensear a população de rua, para focar na luta pela vida. Estamos, neste momento, brigando para nos manter vivos. Esta é a dura realidade com que estamos vivendo. Talvez já tivéssemos tido uma resposta se tivéssemos tacado fogo numa delegacia. Queremos saber o que vai ser feito, senão vamos denunciar esta situação a uma corte internacional, pois o que está ocorrendo é um extermínio”, disse.

 

Edição: Aécio Amado