Fabricantes de cigarro e produtores de tabaco querem adiar discussão sobre aditivos que dão aroma e sabor

08/03/2012 - 20h14

Carolina Pimentel
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Diante da possível retirada de aditivos do cigarro, a indústria do fumo se mobiliza para tentar adiar a aprovação da proposta da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que quer acabar com ingredientes que dão aroma e sabor aos cigarros, como o mentolado, de chocolate e baunilha.

Os fabricantes e fumicultores enviaram um manifesto contrário à proposta, à ministra-chefe da Casa Civil, Gleise Hoffman, e a outros setores do governo, em que pedem a criação de uma câmara técnica para debater o assunto por mais tempo e ainda querem levar a discussão para o Congresso Nacional.

No documento, o setor afirma que a retirada dos aditivos vai inviabilizar “a fabricação de 99% dos cigarros atualmente comercializados legalmente no Brasil”. O American Blend, espécie de mistura de tabaco, é o tipo mais usado no Brasil. De acordo com os fabricantes, esse fumo exige a adição de açúcar – cerca de 25% é perdido durante a secagem da folha – e de outros ingredientes, como flavorizantes, para que se consiga a conservação e umidade adequada no cigarro.

A Anvisa quer proibir a adição de aromatizantes, flavorizantes e ameliorantes, substâncias natural ou sintética que mascaram o gosto amargo do tabaco e tornam a fumaça menos irritante, entre elas açúcar, frutas, mel, temperos e ervas. De 2007 a 2010, subiu de 21 para 40 o número de marcas de cigarros aromatizados registradas na Vigilância Sanitária.

“[A Anvisa] Só está permitindo tabaco, água e a embalagem de papel. Isso vai criar um produto totalmente inviável de ser comercializado, porque proíbe os ingredientes que garantem a estabilidade e a harmonia do produto”, alega o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria do Fumo (Abifumo), Carlos Galant, que chamou a proposta da agência reguladora de “radicalizada”.

Segundo a Anvisa, estudos científicos mostram que os cigarros com sabor estimulam jovens e adolescentes ao hábito de fumar, por serem doces. A Anvisa baseou sua decisão na experiência do Canadá, que baniu os aditivos.

Os fabricantes nacionais rebatem o argumento da agência, alegando que não existe relação comprovada entre o uso dos aditivos e o aumento do número de fumantes ou dos riscos à saúde. Eles dizem ainda que o Canadá usa outro tipo de fumo, o virginia, que não precisa, na sua fabricação, dos ingredientes usados no Brasil.

O setor concorda com a retirada dos sabores de frutas, de chocolate, de baunilha e de outros sabores, dos produtos, mas quer manter o açúcar, mentol e cravo. O primeiro, por ser necessário no processo de produção e os outros dois ingredientes por já existir um público cativo para esses produtos, segundo os representantes da indústria. Os cigarros mentolados, por exemplo, respondem por 3% das vendas.

“Proibir cigarros com sabores de frutas e adocicados, a indústria está de acordo. O que quer se manter é o mentol e o cravo, que estão mantidos em todo o mundo”, disse o presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco, Iro Schünke.

A Anvisa marcou reunião para a próxima terça-feira (13), com o objetivo de decidir se aprova ou não as restrições. A versão original da proposta era proibir todos os aditivos, inclusive o açúcar. No mês passado, a diretoria avaliou texto mais brando, apresentado pelo relator, Agenor Álvares, que permite o uso do açúcar por mais um ano, prazo em que o tema voltará a ser debatido. A possibilidade de manutenção da adição do açúcar ao cigarro provocou um impasse entre os diretores, o que levou ao adiamento da decisão para este mês.

Edição: Lana Cristina//A matéria foi alterada às 19h40 para correção de informação