Apuração de notas de desfiles do carnaval do ano que vem será em local fechado, diz Kassab

22/02/2012 - 16h45

Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – No ano que vem, a apuração das notas dos desfiles das escolas de samba deverá ser feita em local fechado e definido pela prefeitura. De acordo com determinação anunciada hoje (22) pelo prefeito Gilberto Kassab, a mudança do local da apuração para um ambiente fechado deverá constar do contrato referente aos desfiles.

Segundo o prefeito, havia "uma certa resistência" da Liga das Escolas de Samba Independentes à mudança, mas a entidade não tem interesse da entidade em assumir essa responsabilidade. "Vamos obrigar a realizar a apuração em local fechado, possivelmente no próprio sambódromo. Apenas muda a questão da segurança, não só da apuração, mas de todo o evento.”

Ontem (21), terça-feira de carnaval, a apuração foi interrompida depois que dois jovens invadiram o local onde os votos eram contados e levaram envelopes com notas de alguns jurados. Houve tumulto e os dois rapazes foram presos e autuados em flagrante por dano ao patrimônio público. Horas depois, a Mocidade Independente foi declarada campeã do carnaval de 2012. Kassab reiterou que aguardará a conclusão das investigações da Polícia Civil para tomar as providências devidas.

Para o prefeito, houve falhas na organização e na segurança da apuração. Por isso, Kassab determinou à São Paulo Turismo S/A (SPTuris), empresa de turismo e eventos da capital paulista, que esse detalhe (local da apuração) seja reformulado contratualmente. “Nossa manifestação é com relação à responsabilidade com a segurança no evento. Até então, essa responsabilidade era, contratualmente, da liga.”

Pela determinação de Kassab, a segurança passará a ser feita pela prefeitura. Caso contrário, não haverá investimento de recursos públicos no carnaval. “Sou prefeito ainda neste ano, e os recursos para o ano que vem são definidos ainda na minha gestão. Não haverá recursos públicos se for identificada a participação de alguma escola e essa escola continuar na liga”, afirmou.

Kassab ressaltou que a administração pública não tolerará a convivência com escolas de samba que tenham dirigentes envolvidos em episódios como os de ontem no Anhembi – houve também o incêndio de um carro alegórico de uma das escolas. Ele disse que a prefeitura será implacável e não terá nenhum problema em se afastar da liga, caso as penalidades não sejam aplicadas pela entidade.

Segundo o prefeito, não é a primeira vez que há incidentes em um grande evento no estado, por isso, é preciso analisar cuidadosamente o que houve e quais medidas preventivas podem ser adicionadas ao contrato entre a liga e a prefeitura para evitar esse tipo de problema.

Para ele, a imagem do carnaval paulista não ficou manchada. “O que vai ficar é a imagem de um belo carnaval apresentado por escolas que se empanharam muito, um carnaval com participação cada vez maior. A questão específica do incidente não está associada ao carnaval, é um caso de polícia, que será tratado por ela. Identificados os culpados, estes serão punidos.”

O presidente da SPTuris, Marcelo Rehder, informou que, se for comprovada a participação de dirigentes de escolas de samba no tumulto durante a apuração, a agremiação poderá ficar até dois anos sem receber recursos da prefeitura. Segundo Rehder, a SPTuris deve começar a analisar logo a mudança no contrato determinada pelo prefeito. “Ainda não temos nada. O que ele determinou também foi que nós participássemos da segurança do desfile das campeãs, que é o que vamos fazer agora.” As sanções previstas no contrato devem ser aplicadas assim que as investigações policiais forem concluídas, acrescentou.

O major da Polícia Militar responsável pela operação de ontem no sambódromo, Alexandre Gasparian, disse que o trabalho foi bem elaborado e que uma prova disso é a inexistência de vítimas. Gasparian reconheceu, porém, que é preciso estudar novas posturas para o dia da apuração. “Quem invadiu estava credenciado e autorizado a estar naquele local. Então, é complicado dizer que a agressão não foi impedida. Como impedir uma pessoa que está autorizada pela diretoria da liga a estar ali?”, questionou.

Gasparian destacou que na tarde de ontem 60 policiais faziam a segurança na apuração, número superior ao dos que trabalham em jogos de futebol com previsão de público até 40 mil torcedores. “O efetivo era mais do que suficiente. Se repararmos nas imagens, perceberemos quantos policiais acompanharam o deslocamento da torcida, lembrando que essa torcida passa quase em frente a uma [torcida de escola] rival”, disse.

Edição: Nádia Franco