Retiradas da poupança devem aumentar neste início de ano, prevê Anefac

07/02/2012 - 13h09

Kelly Oliveira
Repórter da Agência Brasil

Brasília - As despesas de início do ano devem levar os brasileiros a retirar recursos da poupança no começo de 2012, apesar de esse investimento estar se tornando cada vez mais atrativo. A avaliação é do vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel de Oliveira.

Segundo dados do Banco Central (BC), divulgados ontem (6), os saques em caderneta de poupança superaram os depósitos em R$ 2,838 milhões, em janeiro. A poupança não registrava captação líquida negativa desde maio de 2011 (R$ 1,301 bilhão). Esse foi o pior resultado para meses de janeiro desde 2009, quando foram registrados R$ 486,630 milhões de captação líquida negativa.

De acordo com Oliveira, o resultado do mês passado “não foi uma surpresa”, porque muitos brasileiros iniciam o ano com gastos extras com impostos, despesas escolares e de férias e dívidas do cartão de crédito feitas no Natal, por exemplo. Além disso, segundo ele, a inflação mais alta reduz o poder de compra e isso também faz com que os brasileiros retirem dinheiro da poupança. Para Oliveira, pelo menos até fevereiro o comportamento dos investidores em poupança deve ser mais sacar do que depositar recursos.

Na avaliação do vice-presidente da Anefac, para pequenos valores, até R$ 5 mil, vale mais a pena deixar o dinheiro na poupança do que pensar em outras aplicações. A vantagem da poupança está no fato de que não é cobrada taxa de administração, nem Imposto de Renda (IR). A remuneração é a Taxa Referencial (TR) mais 6% ao ano. Mas é preciso deixar o dinheiro aplicado por um mês para receber a remuneração.

De acordo com Oliveira, com a expectativa de mais reduções da taxa básica de juros, a Selic, este ano, a poupança deve ficar cada vez mais atrativa em relação a fundos de renda fixa. Esses fundos usam a Selic como referência. “Quanto menor for a Selic, mais atrativa fica a poupança na comparação com os fundos de renda fixa.”

As aplicações em fundos de renda fixa são tributadas em 22,5%, quando o prazo é até 180 dias (seis meses); em 20%, com prazo entre 181 até 360 dias; em 17,5%, com prazo de 361 até 720 dias; e em 15%, com prazo acima de 720 dias. Além disso, os fundos de investimentos cobram uma taxa de administração para gerenciar as aplicações.

Segundo Oliveira, atualmente, com a Selic em 10,5% ao ano, só vale a pena deixar dinheiro aplicado em fundos de renda fixa quando a taxa de administração estiver abaixo de 1,5% ao ano e o prazo de resgate for longo. Pelos cálculos do especialista, com a taxa de administração em 1%, com resgate entre um e dois anos (alíquota de IR de 17,5%), a aplicação vai render (0,62% ao mês), portanto um pouco acima da poupança (0,61%). No caso de resgate acima de dois anos (15% de alíquota de IR), o retorno passa para 0,64%. Em todas as outras situações, em que o tempo de resgate é menor, a poupança é mais atrativa.

Na simulação com a taxa Selic em 9,75% ao ano, a rentabilidade dos fundos de renda fixa é igual à da poupança no caso de a aplicação ser resgatada depois de dois anos de investimento (0,61%), com taxa de administração de 1% ao ano.

No último dia 26, em ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, responsável por definir a Selic, a autoridade monetária indicou que há “elevada probabilidade” de a taxa básica ficar em um dígito, ou seja, abaixo de 10% ao ano.

Segundo avaliação de Oliveira, a Selic em queda traz ao governo a preocupação de que haja uma migração de investidores para a poupança. Por isso, o governo pode decidir mudar a remuneração da poupança. Em 2009, quando houve queda da Selic, o governo chegou a anunciar que iria tributar rendimentos da poupança, mas depois desistiu da ideia.

Edição: Juliana Andrade