A partir de janeiro, Brasil terá um emissário especial para o Oriente Médio, a Turquia e o Irã

26/12/2011 - 9h59

Renata Giraldi
Repórter da Agência Brasil


Brasília – A partir de janeiro, o embaixador Cesário Melantonio Neto assume a função de emissário especial do Brasil para o Oriente Médio e mais a Turquia e o Irã. Pela frente, o diplomata, com mais de 40 anos de profissão, prevê ainda um longo período de tensão na região aliado às articulações para evitar o agravamento da violência. Segundo ele, o desafio do Brasil é manter a posição não intervencionista e a defesa do diálogo como alternativa de negociação. Nos últimos dias, ainda como embaixador brasileiro no Cairo, Melantonio Neto esteve às voltas com as eleições parlamentares no Egito e as negociações para encerrar o impasse na Síria. A seguir, os melhores trechos da entrevista de Melantonio Neto à Agência Brasil.

Agência Brasil: Como será o trabalho do senhor na função de emissário especial para o Oriente Médio e mais Turquia e Irã?
Cesário Melantonio Neto: Não é uma função nova. No passado, foi desempenhada pelo embaixador [já aposentado] Afonso de Ouro Preto. Como conheço bem a região, por ter sido embaixador no Irã, na Turquia e agora no Egito, são dez anos convivendo com a cultura e o mundo árabe, fui designado para essa função. A posição do Brasil é historicamente a não intervencionista. Defendemos o diálogo e a busca pacífica pelas soluções de impasses.  

ABr: Antes da captura e morte do ex-presidente líbio Muammar Khadafi, o senhor foi até a Líbia negociar com os integrantes do Conselho Nacional de Transição (CNT). O que se diz em um momento de tanta tensão e disputa?  
Melantonio Neto: Em todas as conversas que tenho, seja aqui [no Egito], com as autoridades da Liga Árabe, ou na Líbia, costumo lembrar que todos os processos revolucionários são lentos e passam por um momento de transição. No Brasil mesmo passamos por uma longa fase desde o fim do autoritarismo até a redemocratização. Mas acredito, sinceramente, que ainda levará muito tempo para esses processos todos serem concluídos.

ABr: Parece tão distante, o Brasil, na América do Sul, participar das negociações de paz na região. Por que o tema é tão caro ao Brasil?
Melantonio Neto: O Brasil integra o grupo denominado Aspa [América do Sul e Países Árabes] cujo objetivo principal é a integração dessas áreas. [A previsão era realizar uma cúpula no começo de 2011, mas com as tensões, as reuniões foram adiadas]. Em setembro de 2012, a Aspa se reunirá em Lima, no Peru. Nos preocupamos com as dificuldades de todos os países-membros e, nesse caso, a distância não deve ser observada como uma dificuldade.

ABr: Observando do Ocidente, a impressão que se tem é que a situação crítica se concentra na Síria. Mas isso é real?
Melantonio Neto: Não. Há vários pontos de tensão em todo o universo chamado de mundo árabe. Os movimentos de reação popular são intensos não só na Síria, como também na Arábia Saudita, na Turquia, no Irã e outros. Estou permanentemente em conversa com a Liga Árabe [que reúne 23 nações, inclusive a Síria, que está temporariamente suspensa] para saber como estão as negociações. O Brasil apoia o trabalho da Liga Árabe e coloca-se à sua disposição.

ABr: O senhor disse que prevê ainda um longo período até encerrar essa tensão toda...
Melantonio Neto: Sim. Os processos revolucionários ao longo da história já se mostraram lentos e graduais. No caso do Ocidente, o melhor exemplo disso é a Revolução Francesa [1789-1799]. Por isso, quando me perguntam se esses movimentos continuarão, respondo sempre: 'ainda vai levar muito tempo'.

 

 

Edição: Lílian Beraldo