Sem atendimento perto de casa, pacientes de fora do DF lotam hospitais no centro de Brasília

09/11/2011 - 15h01

Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil


Brasília – Moradores de cidades do Distrito Federal e de outras unidades federativas são responsáveis por grande parte da demanda dos dois principais pronto-socorros da capital federal. No Hospital Regional da Asa Norte (Hran), dos 7.432 atendimentos feitos entre janeiro e outubro deste ano, 72% (5.349) foram de pacientes que não moram em Brasília.

Diante do baixo número de médicos plantonistas e da demora no atendimento no local onde vivem, pessoas como Suzana Matos, 32 anos, moradora de Planaltina (GO), percorrem longas distâncias em busca de atendimento. A telefonista chegou ao Hran por volta das 8h da manhã do último dia 25, depois de uma viagem de ônibus de uma hora e meia.

“O transporte para demais, mas onde moro não tem médico. Já tentei várias vezes. Desta vez, nem fui lá. Vim direto aqui”, contou. Com dores no abdômen e suspeita de infecção urinária, Suzana aguardou uma hora para ser atendida. “Conheço muita gente que faz isso. Minha mãe mora em Águas Lindas [GO] e só vem se consultar aqui. Às vezes demora porque tem muita gente. Mas tem médico.”

Morador de Ceilândia, o segurança Romildo José Jorge, 46 anos, também deixou o local onde vive em busca de uma consulta médica. Antes, passou no hospital regional da cidade, mas não conseguiu ser atendido. “Lá, é impossível fazer qualquer coisa. O posto de saúde está em reforma e conseguir marcar consulta é milagre. Tem que chegar às 5h”, disse. Romildo também aguardou cerca de uma hora para conseguir uma consulta no Hran, que contava com cinco profissionais de clínica médica na manhã em que a equipe de reportagem esteve no local.

No Hospital de Base, a procura é por especialistas, já que a unidade disponibiliza atendimento em clínica médica apenas para pacientes internados. Entre janeiro e setembro deste ano, 9.706 moradores de Goiás foram atendidos, além de 495 de Minas Gerais e 627 da Bahia.

No local, há especialistas de áreas como otorrinolaringologia, oftalmologia e ortopedia. Há meses sem conseguir atendimento no Hospital Regional do Guará (DF), a dona de casa Jaqueline Gomes, 29 anos, resolveu procurar a unidade no centro da capital federal para tratar de uma infecção no olho. “Lá [no Guará], não tem médico. Aqui, quando a gente consegue entrar e ficar cara a cara com o médico, o atendimento não é ruim”, avaliou.

Cansada de esperar por uma consulta em Ceilândia, a irmã de Jaqueline, mãe de uma criança de 10 anos, também decidiu recorrer ao Hospital de Base. “Em Ceilândia, ela não conseguiu otorrino. Mas aqui, já perguntei e tem”, contou a dona de casa.

Já a auxiliar de escritório Áurea Nívea Almeida, 29 anos, não teve a mesma sorte. Preocupada com sintomas como dormência em um lado do corpo e visão turva, ela saiu da cidade de Planaltina em busca de uma consulta na unidade no centro de Brasília, mas foi informada que não poderia receber atendimento por se tratar de um caso para clínica médica. No saguão do Hospital de Base, ela esperava que os sintomas melhorassem para ir ao Hran. “Disseram que aqui, a clínica médica só atende quem chega de ambulância”, relatou.

O hospital confirmou que os profissionais desta área atendem apenas o setor de internação, já que a unidade é referência em casos de maior gravidade.

Em entrevista à Agência Brasil, o secretário adjunto de Saúde do DF, Elias Fernando Miziara, disse que o DF não recebe recursos extras para custear o atendimento de pacientes de outros estados. Para ele, uma alternativa para contornar o problema é o Cartão SUS – em fase de implantação. Com o cartão, os usuários do SUS receberão um número nacional de identificação. A ideia é possibilitar a vinculação dos procedimentos executados nas unidades de saúde ao usuário, ao profissional que os realizou e também ao local onde foram feitos.

“A pessoa apresenta esse cartão e vamos poder faturar e apresentar a fatura para o estado de origem. Vamos acabar com essa história, mesmo porque, quando a prefeitura tiver que pagar para o DF o atendimento do seu cidadão, em vez de comprar ambulância para transferi-lo para cá, talvez seja mais interessante montar o serviço lá”, destacou Miziara.

Atualmente, o governo federal repassa diretamente os recursos da saúde para os estados, com base no número de habitantes de cada unidade federativa.

Em relação aos moradores do próprio Distrito Federal que buscam atendimento no centro da capital federal, o secretário disse que é preciso haver uma mudança de comportamento. “Muitas vezes, não adianta colocar médico lá [nas cidades do DF]. A população já está desviada, vem para cá, não consegue ser atendida, reclama e, no entanto, não muda o seu comportamento.”

 

 

Edição: Juliana Andrade e Lílian Beraldo