Mariana Jungmann
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Os discursos em apoio à “faxina” que a presidenta Dilma Rousseff promoveu em alguns ministérios, demitindo funcionários acusados de corrupção e levando à demissão de pelo menos um ministro, receberam críticas dos líderes de governistas e da oposição. O movimento de apoio às ações moralizadoras da presidenta foi organizado pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS) e contou com uma dezena de senadores da base aliada, independentes e até da oposição.
Para o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PSDB-PR), apoiar a presidenta e não assinar um requerimento de criação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar a corrupção é uma incoerência. “O termômetro que eu tenho para medir as aspirações populares é diferente do dos meus colegas, que aplaudem a presidenta, mas não assinam a CPI”, disse. Para ele, as ações do governo para afastar os acusados foram tomadas “a reboque” da imprensa e da Polícia Federal, e, por isso, não merecem aplausos.
O líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), agradeceu o apoio oferecido à presidenta Dilma, mas rechaçou as defesas feitas pelos senadores de que seja necessário criar uma CPI para investigar as denúncias. “É claro que cada um tem o seu posicionamento, mas, como líder do governo, defendo a posição que é do governo, ou seja, a de investigar profundamente e de modo transparente, mas, efetivamente, sem a necessidade de uma CPI, pelas providências que o governo está tomando”, declarou Jucá.
A necessidade de uma comissão de inquérito no Congresso foi levantada pela maior parte dos senadores que subiram à tribuna – e outros que usaram de apartes aos discursos – para defender a presidenta Dilma e as medida moralizadoras que ela vem adotando nos ministérios. É o caso do senador Pedro Taques (PDT-MT), que tem assinado todos os últimos pedidos de CPI. “A CPI é um instrumento da democracia. No entanto, muitas vezes – e isso nos últimos dezesseis anos –, transformaram um instituto importante, num estado que deve ser transparente, em uma fábrica de pizza, com todo respeito à expressão. Esvaziaram um pouco o instituto. Muito bem! Assinei a CPI e tenho certeza que a presidenta não teme a CPI”, disse.
Assim como Taques, a senadora Ana Amélia (PP-RS) também usou a defesa de Dilma para reafirmar a necessidade de uma comissão para investigar as denúncias de corrupção. Depois de dizer à presidenta que “continue a faxina, a dedetização ou limpeza”, a senadora voltou a declarar que assinará todos os pedidos de CPI que julgar necessários. “Presidenta Dilma, não tema a CPI, a CPI faz parte deste processo e é uma prerrogativa do Congresso Nacional. Assinei a CPI para investigar as denúncias envolvendo o ex-ministro [da Casa Civil] Antonio Palocci. Assinei e fui uma das primeiras signatárias da CPI dos Transportes e assinarei tantas quantas forem necessárias para fazer essa investigação”, declarou a senadora gaúcha.
A criação de uma comissão de inquérito, contudo, não foi a única reivindicação dos apoiadores da presidenta esta tarde. Alguns oradores que fizeram parte do movimento convocado pelo senador Pedro Simon, usaram a tribuna para defender a Polícia Federal (PF).
O próprio Simon ressaltou que o governo deve apoiar a PF e usar determinações claras sobre o uso de algemas para evitar o desvirtuamento de operações como a Voucher, que prendeu 38 pessoas sob acusações de desvios de verbas do Ministério do Turismo [foram decretadas 38 prisões, mas só 36 foram feitas]. “O governo tem que apoiar a Polícia Federal e tem que ter um entendimento do Ministério da Justiça com a PF para ver a forma da polícia agir. Todo mundo está querendo criar condições para dizer que há exagero. Então, eu acho que se o governo puder evitar, deve evitar [o uso de algemas]”, disse Simon.
Após ler nota da Associação dos Delegados da Polícia Federal, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) defendeu a operação e disse que os acusados tentam desviar o foco das investigações para fatos paralelos como a discussão sobre o uso de algemas. “Ela [presidenta Dilma] terá o meu apoio se for para tomar medidas de fortalecimento da Polícia Federal, de fortalecimento de investigações, de combate sistemático a esse câncer da vida nacional que é a corrupção”, declarou.
Mas, as seis horas de discursos favoráveis à presidenta da República, no Senado, não foram suficientes para tranquilizar o governo, que vem enfrentando problemas com as votações na Câmara dos Deputados. Dilma Rousseff convocou os parlamentares do PT e do PMDB para uma reunião esta noite, no Palácio do Planalto. O objetivo é formular uma estratégia de aproximação com a base aliada para atender aos pedidos do Congresso de maior participação no governo.
Edição: Aécio Amado