Apenas 37% dos paulistanos com depressão procuram tratamento, aponta pesquisa

31/07/2011 - 18h09

Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Apenas 37,3% dos paulistanos acometidos por um episódio de depressão no período de um ano procuraram tratamento, segundo estudo realizado por iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS). A pesquisa indicou ainda que 10,4% dos 5 mil entrevistados na região metropolitana de São Paulo tiveram depressão nos últimos 12 meses. O índice verificado em entrevistas, entre 2004 e 2007, foi o mais alto entre os 18 países que foram avaliados no trabalho.

Os países pesquisados foram divididos em dois grupos: alta renda (Bélgica, França, Alemanha, Israel, Itália, Japão, Holanda, Nova Zelândia, Espanha e Estados Unidos) e baixa e média renda (Brasil – com dados exclusivamente de São Paulo –, Colômbia, Índia, China, Líbano, México, África do Sul e Ucrânia).

A professora do Departamento de Medicina Social da Universidade Federal do Espírito Santo Maria Carmen Viana confirma que a prevalência de pessoas com depressão, na metrópole, é elevada. "Semelhante [à prevalência] em países de primeiro mundo, onde a gente sabe que a depressão tem de fato uma sobrecarga global bastante elevada”, ressaltou a especialista, que trabalhou na elaboração do estudo.

Entre os brasileiros ouvidos para a pesquisa, 18,4% afirmaram ter tido depressão uma vez na vida. A média desse índice entre os países mais desenvolvidos economicamente foi de 14,6% e de 11,1% entre os de menor desenvolvimento econômico.

A falta de informação e de uma rede de atendimento adequada é, segundo Carmen, o principal fator para que a maioria dos afetados pela doença não procure tratamento. “É uma situação da desinformação acerca da depressão pela população geral. E uma desassistência da saúde mental do ponto de vista da saúde pública”.

Com campanhas de conscientização, a especialista acredita que a população estaria apta a perceber o aparecimento de sintomas da depressão. Ela explica que, como problema pode ser desencadeado por fatores externos, o doente não percebe que é portador de uma enfermidade. “Muitas vezes, a pessoa nem percebe que está doente, ela acha que aquilo [sintomas] é em função daquilo que aconteceu de adversidade”.

Por isso, segundo Maria Carmen, há a necessidade de divulgar informações sobre a doença, principalmente sobre os sintomas depressivos. São sinais que vão desde a tristeza e cansaço constantes, passando pela insônia e falta de autoestima, até os pensamentos suicidas. “É importante que se saiba a diferença entre uma tristeza normal, que não é motivo de tratamento e a depressão doença, onde há vários sintomas identificáveis clinicamente”, destaca a pesquisadora. Ela ressalta ainda que a depressão está associada a uma série de outras doenças, como problemas cardíacos e hipertensão.

Os resultados do estudo da OMS, que indica que a doença é uma preocupação considerável para a saúde pública em todas as regiões do mundo e tem ligação com as condições sociais em alguns dos países avaliados, foram apresentados no artigo Epidemiologia Transnacional do Episódio Depressivo Maior, publicado na última terça-feira (26), na revista de acesso aberto BMC Medicine.

Edição: Lana Cristina