Conflitos vividos por jovens árabes como drogas, violência e pobreza são tema de mostra de filmes

18/06/2011 - 14h33

Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Filmes que integram a 6ª Mostra Mundo Árabe de Cinema, que está de passagem pela capital paulista, dão ao público a noção do porquê jovens árabes têm ido às ruas para protestar contra os regimes instalados em seus países, a exemplo do que ocorreu recentemente no Egito, na Síria, Líbia e no Iêmen. Os filmes são anteriores a essas manifestações, mas apresentam uma série de conflitos e problemas vividos pelos jovens, que determinaram o que ficou mundialmente conhecido como Primavera Árabe.

“Essa mostra, especificamente, se caracteriza por trazer um cinema novo e muito atual. São diretores novos, que trazem questões do [mundo árabe] contemporâneo. É uma geração bastante criativa e engajada e que traz filmes que realmente mostram as questões que levaram a essas manifestações. Pelos filmes, será possível entender porque os jovens egípcios lotaram a Praça Tahrir [a praça central do Cairo, capital do Egito], por exemplo”, afirmou Soraya Smaili, diretora cultural do Instituto da Cultura Árabe (ICArabe), que promove o evento.

Em São Paulo, a mostra vai apresentar 15 filmes de países como a Tunísia, o Egito, a Síria, os Emirados Árabes Unidos, o Iraque, a Argélia e o Marrocos. Quatorze deles são inéditos. O único que já passou pelo Brasil é o argelino Fora da Lei, de Rachid Bouchared, que disputou o Oscar de melhor filme estrangeiro este ano.

“O objetivo principal da mostra é aproximar as culturas e mostrar que o mundo árabe não está distante e que existe uma proximidade muito grande. Além disso, sabemos que o Brasil é feito de um caldeirão de culturas, inclusive da cultura árabe, e isso faz com que o brasileiro goste muito e se aproxime muito dessa cultura e do cinema árabe”, disse Soraya.

Segundo ela, os filmes abordam problemas que são comuns aos países árabes e que podem também ser identificados em outros lugares do mundo: a busca pela liberdade de expressão e pela democracia, os conflitos entre a cultura mais tradicional e a contemporânea e a luta por uma vida mais digna. “Estamos apresentando realidades, situações e fatos de dez países diferentes. O mundo árabe é composto por 22 países e estamos trazendo para São Paulo a representação de dez países, o que é bastante significativo”, afirmou.

O público da mostra também vai poder conferir a exposição fotográfica Expressões da Revolução, que será realizada na Matilha Cultural. A exposição reúne fotos das manifestações ocorridas no Egito e na Tunísia e também promove a reflexão sobre o processo que está em andamento atualmente no Oriente Médio. A entrada para a exposição fotográfica é franca.

“É uma sociedade que está em movimento, que busca o novo, o atual. E é isso o que está sendo mostrado nestas manifestações, pacíficas, muitas vezes bem organizadas e que, apesar de estarem sofrendo grande repressão por seus governos ou regimes, estão ocorrendo de forma muito digna e democrática. Tanto que isso está contagiando outros países que estão buscando uma manifestação popular mais massiva, como aconteceu agora na Espanha, em Portugal e na Grécia”, disse Soraya.

Os filmes também abordam, segundo ela, temas como a pobreza, a violência das cidades, as drogas, a paixão pelo futebol e até a questão das mulheres. “Precisamos desfazer os estereótipos e ver que a mulher árabe também está em busca de trabalho, também estuda e vai à faculdade e ocupa posição importante em vários lugares do governo e das empresas”.

Para marcar o encerramento do evento, a produtora Lina Menzil e a diretora Rafa Amaria, do filme Segredos Enterrados, vão discutir a arte de se fazer cinema no mundo árabe e a situação atual da Tunísia após o levante popular que ocorreu no início deste ano. O encontro está marcado para o dia 29 de junho, na Cinemateca. “Além de falarem sobre o filme, elas também vão falar sobre a realidade da Tunísia hoje com o fim do regime e, agora, com o governo de transição”, disse Soraya.

A mostra é realizada pelo ICArabe em parceria com o Serviço Social do Comércio (Sesc-SP), a prefeitura de São Paulo, a Casa Árabe de Espanha e a Cinemateca. As exibições dos filmes ocorrem no Cinesesc, no Centro Cultural São Paulo, na Cinemateca e na Matilha Cultural. Depois de São Paulo, a mostra segue para Brasília e para Belo Horizonte. A programação completa da mostra pode ser consultada no site.

Edição: Lana Cristina