Encenação da Paixão de Cristo na Cidade de Deus aborda tráfico e criminalidade

23/04/2011 - 13h27

Paulo Virgilio
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Uma das histórias mais encenadas em todo o mundo, a Paixão de Cristo será encenada até amanhã (24) em uma versão capaz de gerar polêmica, numa comunidade carioca que ainda guarda as marcas da violência. O espetáculo Outra Paixão, que poderá ser visto gratuitamente na Cidade de Deus, sempre às 20h, adapta passagens do Evangelho para os dias atuais, tendo como pano de fundo a criminalidade no Rio.

A montagem é da Companhia de Teatro Provocação, formada por jovens moradores de comunidades carentes da cidade. Na peça, o protagonista Messias é um jovem que tenta evangelizar dois amigos envolvidos com o tráfico de drogas. Acusado de, ao recuperar usuários, estar diminuindo o lucro da venda de drogas, Messias acaba traído e condenado à morte por Azul, policial corrupto que fornece entorpecentes aos bandidos da comunidade. Em vez de pregá-lo na cruz, Azul mata o Messias no chamado micro-ondas, nome dado nas favelas às execuções de vítimas do tráfico, quando queimadas vivas presas a pneus.

Para o diretor Adilson Dias, idealizador do espetáculo, a intenção é humanizar a história de Cristo. “Precisamos acreditar em um Jesus mais humano, próximo de nossa realidade”, argumenta.

O ator André Carvalho, intérprete do policial que executa Messias, conta que o teatro o impediu de entrar para a criminalidade. “Perdi pai e dois irmãos para o tráfico. Mesmo indiretamente você acaba se envolvendo, mas as artes me salvaram”, afirma.

Além de Jesus, personagens como Maria, Pedro e Maria Madalena também estão na história de Outra Paixão. Segundo Adilson, os ensaios duraram cinco meses e o grupo acabou optando pela encenação num Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) da Cidade de Deus, o João Batista dos Santos, na Rua Edgar Werneck, 1565.

“A ideia inicial era usar as ruas da comunidade, mas como temos réplicas de armas, achamos mais prudente um local fechado”, explica. Nos ensaios, o grupo contou com a colaboração de policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Cidade de Deus.

Edição: Talita Cavalcante