Nielmar de Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Lucimar de Souza Cruz é uma das cerca de 7 mil pessoas desabrigadas pelo temporal que atingiu o município de Nova Friburgo, em janeiro. A enxurrada causou mais de 400 mortes e destruiu centenas de casas. Grande parte das pessoas que perderam suas casas, passados 90 dias da tragédia, ainda vive em abrigos.
Mais do que a casa, Lucimar perdeu na tragédia um filho, a nora e dois netos. Atualmente reside no abrigo do Sase, no bairro de Olaria. Do pouco que tinha, restam as lembranças e uma enorme vontade de ter uma casa. Ela disse que não consegue esquecer a tragédia. “Eu já estou há três meses longe e sofrendo muito. Desde a madrugada do dia 12, quando o chão afundou levando as minhas e muitas outras crianças”.
No abrigo, Lucimar e mais 150 pessoas aguardam uma solução para as suas vidas. Ela disse que no começo tudo era muito organizado, havia muita solidariedade. “No começo teve muita assistência. A ponto de eu ficar até de boca aberta. Mas agora nós estamos praticamente abandonados no local. Não vem mais ninguém, os médicos sumiram, a comida é pouca. O Antônio Pagundes – responsável pelo abrigo – vai ao Ceasa, apanha algumas verduras, legumes, e a carne de soja é o complemento. Aqui já estamos todos tendo dor de barriga e diarreia de tanto comer carne de soja. Não há uma carne vermelha, um franguinho. As crianças estão ficando com enjoo”.
Vivendo à base de remédios, alguns quilos mais magra, Lucimar buscou no sono uma forma de fugir da realidade em que vive atualmente. “Durmo à noite, acordo às 9 horas e às 14 horas estou dormindo novamente. Porque você acha que eu durmo tanto?”, pergunta. “Eu durmo para esquecer, para não pensar em nada. Porque, dormindo, a gente não pensa. Eu não aguento mais”, desabafou.
Edição: Aécio Amado