Falta de cultura em investimento de longo prazo desestimula aplicação em títulos públicos, diz Anbima

09/04/2011 - 11h10

Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil

Brasília – A falta de uma cultura de investimento de longo prazo é o principal fator que desestimula as aplicações em títulos públicos no país. A avaliação é do presidente do Subcomitê de Benchmarks da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), Sílvio Samuel.

Segundo ele, o Brasil tem feito progressos consideráveis na aplicação em títulos públicos por pessoas físicas, como o programa Tesouro Direto, mas os investidores ainda precisam de educação financeira.

Para Samuel, agora é o momento ideal para aplicar em títulos públicos a fim de se aproveitar das taxas de juros ainda altas. “Os juros têm caído nos últimos dez anos, aproximando o Brasil das economias mais desenvolvidas, o que reflete a confiança na economia brasileira”, explica. “Na média, quem vai se aposentar em 2020 e 2030 tem mais chance de lucro porque as taxas ainda estão altas.”

Ele, no entanto, ressalta que, para consolidar o investimento em papéis de longo prazo, é preciso paciência e estratégia. Muitas vezes, o valor dos papéis enfrenta oscilações que passam a impressão de que o aplicador está perdendo dinheiro. Sem paciência para esperar o vencimento, o investidor resgata o título com antecedência e deixa de ganhar.

“O Brasil tem um histórico de investimentos de curto prazo em renda fixa. O problema é que esses papéis têm comportamento diferente dos de longo prazo, que são mais voláteis e, dependendo do caso, podem ter o comportamento comparado ao de uma ação”, afirma. “O investidor precisa ter paciência porque os títulos vão reverter as baixas [de rendimento] e [vão] render se o aplicador ficar com os papéis até o final.”

Por meio do programa Tesouro Direto, o Tesouro Nacional vende títulos públicos a pessoas físicas pela internet. Os papéis de prazo mais longo têm tido perdas em 2011. A NTN-B Principal, indexada à inflação pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), com vencimento em 2035, teve perda de 3,5%, de 1º de janeiro até o último dia 4. A NTN-B, que vence em 2045, teve perda de 1,53% no mesmo período.

De acordo com Samuel, os momentos de desvalorização servem de oportunidade para investidores comprarem os papéis, na baixa, de aplicadores que se desfazem dos títulos antes do vencimento. Para isso, a Anbima desenvolveu um índice com a rentabilidade média dos títulos públicos em circulação. Divulgado desde 2005, o Índice de Mercado Anbima (IMA) é dividido em subíndices, classificados conforme o tipo de indexador (prefixados, Selic, IPCA e IGP-M).

“Esse índice serve como um parâmetro para ter ideia do comportamento do mercado”, diz. O especialista, no entanto, recomenda que o investidor não deixe de acompanhar o valor do título adquirido por ele. “É como comparar algumas ações específicas com o índice Bovespa [que mede a variação de 80% das ações mais negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo]”.

Por meio dos títulos públicos, o governo pega dinheiro emprestado dos investidores para honrar compromissos de curto prazo. Em troca, o Tesouro Nacional compromete-se a devolver o dinheiro com alguma correção no vencimento, que pode ser definida com antecedência (caso dos títulos prefixados) ou seguir a inflação, a taxa Selic e o câmbio.

Edição: Lana Cristina