OAB vai elaborar projeto para Estatuto da Diversidade Sexual

24/03/2011 - 19h00

Isabela Vieira

Repórter da Agência Brasil

 

Rio de Janeiro - A presidente da recém criada Comissão da Diversidade Sexual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Maria Berenice Dias confirmou hoje (24) a elaboração de um projeto de Estatuto da Diversidade Sexual para tratar dos direitos da população de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT). A ideia é que o esboço fique pronto ainda este ano.

Especialista em direito de famílias constituídas por casais do mesmo sexo, a advogada destaca que um dos principais pontos do estatuto será a criação de regras claras para a adoção de filhos. De acordo com ela, não há no país uma legislação específica sobre o assunto e mesmo cumprindo requisitos legais, os casais homossexuais ficam dependendo de aprovação de juízes "arejados".

"A comissão foi criada com o compromisso de elaborar o estatuto no qual ficará prevista expressamente a adoção por pais homossexuais", disse Berenice Dias. Segundo ela, atualmente, há "uma espaço" na legislação, já que "não existe leis admitindo ou proibindo a adoção. "Isso faz famílias dependerem da sensibilidade do Judiciário", completou.

Além de temas como acesso à saúde, educação e mercado de trabalho, o estatuto, que deve contar com a colaboração de movimentos sociais, deve tratar de outras questões controversas como as cirurgias de mudança de sexo e o nome social. Outro ponto que não deve ficar de fora é a punição para atos de discriminação ou preconceito contra homossexuais.

Para todos os temas que tangem os direitos do público LGBT, a advogada esclarece que existe demanda no Judiciário, pois "nascem de necessidades práticas da vida das pessoas". Mas como ocorre em relação à adoção, sem leis não há segurança jurídica. "Avançaríamos de uma maneira mais significativa se conseguíssemos a aprovação de normas específicas", afirmou.

Assim como faz na área do direito homoafetivo - um novo ramo que discute a proteção jurídica a casais homossexuais e incluiu direitos à herança e a pensões, por exemplo - , a expectativa da presidente da comissão é pressionar o Legislativo e o Judiciário por meio de casos de jurisprudência (decisões acatadas anteriormente por tribunais superiores).

"Precisamos de um tsunami de ações. Quando a sociedade começar a viver quase que com base nas orientações das jurisprudência, e não com base na falta de leis, acabaremos pressionando os legisladores, principalmente os conservadores, que poderão perder um espaço de poder", avaliou.

Para apresentar o Estatuto da Diversidade Sexual no Congresso Nacional, Maria Berenice disse que sinalizou a intenção de colaborar com a senadora Marta Suplicy (PT-SP).

 

Edição: Aécio Amado