Uma mulher morre vítima de homicídio todo dia no Rio

02/03/2011 - 21h44

Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – A violência é responsável pela morte de uma mulher todos os dias no estado do Rio de Janeiro. A informação é da superintendente de Direitos da Mulher da Secretaria Estadual de Direitos Humanos, Cecília Teixeira Soares. Ela participou hoje (2) do lançamento da campanha Os Direitos da Mulher Não São uma Fantasia, na comunidade do Pavão-Pavãozinho, em Copacabana. O lançamento da campanha marcou o Dia Internacional da Mulher, que este ano será comemorado durante o carnaval.

Cecília Teixeira citou os dados do estudo Dossiê Mulher 2010, feito pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), do governo do estado, divulgado no ano passado, que faz uma radiografia da violência contra a mulher no estado. Segundo o dossiê, 370 mulheres foram mortas no ano de 2009 e mais 532 sofreram tentativa de homicídio - duas tentativas a cada 48 horas.

Para a superintendente, uma das chaves para diminuir esses índices é proporcionar uma rede de atendimento ágil, tanto para a mulher vítima de violência quanto para aquela que se sente ameaçada. “A questão é a rede de proteção às mulheres funcionar para que elas não cheguem ao ponto de ameaça de morte. Isso passa por centros de atendimento psicossocial e jurídico, delegacias de mulheres, juizados e defensorias públicas”, afirmou.

O lançamento da campanha contou com a presença de dezenas de Mulheres da Paz, grupo criado durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para atuar como mediador de conflitos em comunidades pobres.

Uma das integrantes, Esther Cristina Cordeiro, moradora da comunidade do Cantagalo, na zona sul da cidade, ressaltou que os casos de violência doméstica diminuíram nos últimos meses, desde a implantação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Mesmo assim, ela disse que os casos de agressão continuam, devido principalmente à omissão das vítimas.

“O que adianta você me agredir e eu não te denunciar? Cabe a mim ter a iniciativa. Muitas não falam nada e a gente só percebe quando vê os hematomas. Desde que nós iniciamos o projeto [Mulheres da Paz], as coisas mudaram muito. As mulheres estão conhecendo os seus direitos, querendo aprender o que elas podem fazer”, disse.

Mas para a líder comunitária, apesar dos avanços, ainda existe arraigada a ideia de que a violência doméstica pode ser relevada em nome de um suposto amor. “Muitas dizem que o marido gosta delas e que foi só uma briga. Falta consciência e também dignidade. Não adianta você gostar de uma pessoa e ela querer te fazer mal”, completou.

O secretário estadual dos Direitos Humanos, Rodrigo Neves, participou do lançamento da campanha e admitiu que o principal desafio é a inclusão social e a luta contra a violência doméstica. “Ainda há uma realidade, em pleno século 21, de violência contra a mulher. Mas estamos trabalhando nos espaços pacificados pelas UPPs para atuar pela mudança de fato dessa realidade”, afirmou Rodrigo Neves.

Antes da ocupação policial das favelas, a mulher que denunciasse agressão pelo marido poderia ser morta pelo tráfico de drogas, pelo fato de atrair a polícia à comunidade. “A retomada dos territórios do poder paralelo está sendo acompanhada pelo direito das pessoas livre se organizarem e de serem incluídas no Estado Democrático de Direito”, afirmou o secretário.

 

Edição: Aécio Amado