Após retirada de ossadas, busca por desaparecidos políticos é interrompida em São Paulo

03/12/2010 - 18h59

Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil

São Paulo - Foram interrompidas hoje (3), no Cemitério da Vila Formosa, zona leste da capital paulista, as buscas por restos mortais de desaparecidos políticos do período da ditadura militar (1964-1985). Entre as ossadas achadas até o momento pode estar a do militante da Ação Nacional Libertadora (ALN) Sérgio Correia.

Na busca, foi encontrado um grande número de ossadas no fundo de uma sepultura irregular. Os despojos foram jogados soltos em um ossário clandestino, de restos mortais de pessoas cujas famílias não puderam pagar pelos túmulos individuais. São quase 2 mil sacos plásticos contendo ossadas que se fragmentaram ao longo de duas décadas.

No início dos trabalhos, na primeira quinzena de novembro, a Procuradoria Regional da República acreditava que poderiam sido enterrados no Cemitério da Vila Formosa os restos mortais de dez desaparecidos: Antônio Lucena, Joelson Crispin, Antônio dos Três Reis Oliveira, Alceri Gomes da Silva, José Ferreira de Araújo, Edson Quaresma, Roberto Macarin, Devanir José de Carvalho, Sérgio Corrêa e Virgílio Gomes da Silva.

A procuradora Eugênia Augusta Gonzaga, que acompanhou o trabalho da perícia, acredita que serão encontrados restos mortais de desaparecidos políticos, apesar das dificuldades de identificação. “Tem ligação, porque esse cemitério, junto com o [Cemitério] de Perus, sofreu uma descaracterização em 1975. Nessa época, foi feita a vala de Perus, também fruto da limpeza de quadras, com o objetivo de ocultar os cadáveres de desaparecidos políticos”.

A suposta ossada do militante da ALN Sérgio Correia foi encontrada em uma sepultura separada, mas reutilizada diversas vezes ao longo dos anos. O estado de conservação dos ossos, segundo a procuradora, “confere com os relatos de que o Sérgio Corrêa morreu em uma explosão de bomba”.

O local foi achado com base em pesquisas nos livros de registro do cemitério. Usando as mesmas informações, os peritos esperam precisar, nos próximos meses, o lugar onde foi enterrado Vigílio Gomes da Silva, líder sindical que comandou o sequestro do embaixador americano Charles Elbric. De acordo com a procuradora, a previsão é que as escavações sejam retomadas em fevereiro do ano que vem.

As buscas são conduzidas pelo Ministério Público Federal em São Paulo, pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, pelo Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal e pelo Instituto Médico-Legal (IML) de São Paulo.

Edição: Vinicius Doria