“Agora, queremos fazer valer a vida dos nossos que morreram lá”, diz soldado ferido no Haiti

15/01/2010 - 21h16

Monica Gugliano
Repórter da EBCl
São Paulo - Com amão enfaixada e os dedos imobilizados por causa do esforço feitopara tentar retirar os companheiros dos escombros, o tenente RafaelAraújo de Souza resume em uma frase a disposição e o estado deânimo dos soldados brasileiros que estão no Haiti: “Agora,queremos fazer valer a vida dos nossos que morreram lá. E é porisso que muitos não querem vir embora”. Ele desembarcou na Base Aérea de Guarulhos no começo da tarde de hoje (15) no voo da ForçaAérea Brasileira (FAB) que trouxe os soldados feridos, em PortoPríncipe, durante o terremoto que devastou o país na últimaterça-feira (12) Rafael contou que saírado posto avançado do batalhão brasileiro, o Posto Forte 22 - achamada Casa Azul -, cerca de dez minutos antes do terremoto.“Estávamos no jipe, na avenida perto do aeroporto, quando sentimoso tremor e vimos um muro cair.” Sem ter muita ideia do que haviaacontecido, o tenente diz que eles resolveram voltar ao posto. “Assimque nos aproximamos, vimos que a casa estava no chão.”Na Casa Azul, a únicaconstrução na rua com mais de um piso, estavam dez dos 14 soldadosque morreram no Haiti. Eles eram do 5° Batalhão de Infantaria Leve(BGL) de Lorena, interior de São Paulo. “Começamos a cavar com asmãos para tentar tirar da terra nossos companheiros”, conta,lembrando dos momentos de desespero. “Infelizmente, muitos jáhaviam perdido a vida.”A casa tem trêsandares e a maior parte dos sobreviventes estava no último andar,onde ficavam os beliches e a área de descanso. “Estava no beliche,dormindo. Acordei no meio da terra, quase coberto pela laje”, diz ocabo Michael Pimentel de Almeida, que sofreu escoriações no corpo eum corte na cabeça. Ao lado do pai, Carlos, e da mãe, Cristina, ocabo desembarcou do avião da FAB afirmando que pretende voltar aoHaiti. “Eles precisam de nós”.Até janeiro de 2007, aCasa Azul era o ponto de onde os criminosos haitianos atacavam osmilitares da Minustah, a força de paz da Organização das NaçõesUnidas (ONU). Era um local estratégico que permitia controlar aentrada e saída da capital haitiana pela principal – e uma dasúnicas – estrada do país. Sua conquista permitiu que as tropasentrassem em Cité Soleil, a maior favela haitiana, até então umlugar intransponível para os soldados.