Professor diz que unidade de conservação pode ser pesado ônus para população local

19/12/2009 - 11h20

Lúcia Nórcio
Repórter da Agência Brasil
Curitiba - Todas as ilhas do litoral paranaense estão emáreas de unidades de conservação (UCs) federais, estaduais e privadas, o que pode ser positivo para a humanidade, mas para as populações locais, muitasvezes, representa pesado ônus. Isso porque, segundo o professorWillian Simões, da coordenação do Programa Educação do Campo, daSecretaria Estadual de Educação, as atividades para a sobrevivência dessascomunidades de ilhéus e ribeirinhos são frequentementeresponsabilizadas pela degradação da natureza.Na avaliação doeducador, áreas de preservação ambiental costumam ser tratadas comosantuários ecológicos, enquanto o ser humano que vive ali há centenasde anos não é levado em consideração. No entanto, de acordo com ele, são esses pescadores artesanais, além dos que trabalham descascando camarão e mariscos, na retirada de caranguejos, as benzedeiras, os artesãos epequenos comerciantes os primeiros a preservar e cuidar da terra em quevivem.Uma das reservas do litoral paranaense é a Área de ProteçãoAmbiental (APA) de Guaraqueçaba, criada para proteger ambientesrepresentativos da Floresta Atlântica. A região é considerada um dosúltimos e mais significativos remanescentes desse bioma e dosecossistemas associados, englobando a Serra do Mar,a planície litorânea, as ilhas e extensos manguezais. Nas escolaslocais, as riquezas dessas áreas são aproveitadas como recursosdidáticos pelos professores. Willian Simões disse que a orientaçãopedagógica é de que se faça uma ponte entre a realidade local e osconhecimentos globais, para que o aluno possa conhecer o mundo, masfortalecido em sua identidade. “Aliás, esse deveria ser o papel de todaescola”, lembra. Os alunos são incentivados desde pequenos acriar vínculos com o local em que vivem. O professor Ezequias França,nativo da Ilha Rasa, é um exemplo desse comprometimento. Deixou a regiãopor algum tempo para completar os estudos e hoje, ensina história e matemática para alunos da 5ª à 8ª série. “É a realização de um sonho.Sou professor na escola em que aprendi a ler”, conta, orgulhoso.França também aproveita a realidade local para transmitir os conteúdos dasmatérias que leciona aos alunos. Conceitos de profundidade, formasgeométricas, fatos históricos e até regra de três são ensinados pormeio de exemplos retirados do cotidiano dos moradores das ilhas. Ele cita um exemplo: “se 20 quilos de camarão são vendidos por R$200,00,  por quanto se deve vender 30 quilos?”O diretor da escolada Ilha Rasa, professor Oromar Cordeiro, também é nativo da região efilho de pescadores. Ele diz que a realidade das ilhas é desafiadora eque, para ensinar, é preciso saber dialogar com os diferentes tiposlocais. “Estar familiarizado e conhecer suas necessidades,respeitá-las. E nada melhor do que um filho da terra para darcontinuidade a essa proposta”, opina.Uma nova proposta pedagógica está sendo elaborada pela secretaria, seguindoas diretrizes do Plano Nacional de Educação do MEC. O chefe doDepartamento de Diversidade da secretaria, Wagner do Amaral, explicaque o novo processo pedagógico em construção se baseará em eixostemáticos e áreas do conhecimento, e não mais em disciplinasfragmentadas. Os saberes tradicionais dessas comunidades e os saberesconstruídos na cultura escolar serão repassados em aulas de ciências da natureza e exatas, humanidades, linguagens, expressão cultural e artes.