Nas ilhas do litoral do Paraná, solução de transporte vence a evasão escolar

19/12/2009 - 11h02

Lúcia Nórcio
Repórter da Agência Brasil
Curitiba - Desde 2003, nas ilhas do litoral do Paraná, em vezde o aluno ir ao encontro do professor, é o docente que se desloca para dar aulas. Antes, isso valia apenas para os alunos da 1ª a4ª série do ensino fundamental. Já os que desejavam concluir até a 8ªsérie ou fazer o ensino médio tinham que ir ao continente,chegando a levar até duas horas de barco, contando o trajeto de ida e volta. Asdificuldades eram tantas que muitos desistiam dos estudos epartiam para trabalhar com a família nas atividades pesqueiras.Hoje,cerca de mil alunos estão matriculados em escolas da região,localizadas em sete ilhas e nas baías de Guaraqueçaba e Paranaguá.A maior parte desses estudantes consegue ser atendida naschamadas “escolas subsede”, que ficam nas ilhas de Superagui, Rasa,das Peças, Piaçaguera, Ilha do Mel, Encantadas e Ilha da Cotinga. Nestaúltima, vivem os indígenas Guarani, alfabetizados em português e no idioma nativo.Os alunos que ainda dependem do uso do barcopara chegar à escola são cerca de 15% do total (em torno de 140alunos). Para estudar, eles ainda precisam levar em conta as condições climáticas,o movimento das marés,as chuvas e até a direção do vento. “Se está chovendo ouventando muito a recomendação é para que não venham à aula”, diz acoordenadora de Ensino das Ilhas do Núcleo de Paranaguá, MariaElizabeth Falanga.O estudante Everton Calado da Costa é um dessesalunos. Ele sai de casa diariamente às 5h30. Após uma caminhada até otrapiche na comunidade de Tromomô ele pega uma embarcação que o levaráaté Guaraqueçaba. Em certas ocasiões do ano, devido à neblina, o barconão consegue seguir viagem, nem retornar, por causa da marébaixa. Assim, ele e outros estudantes chegam a ficar até quatro horasparados, dentro do barco. Mesmo assim, ele diz que nãoperde o gosto pelo estudo. Se não dá para chegar à escola, no diaseguinte os colegas se encarregam de repassar os conteúdos dado pelo professor. Everton quer concluir o ensino médio e cursar umafaculdade. Para isto, precisará deixar a Ilha Tromomô. Mas já estádecidido a retornar, após a formatura, para trabalhar pela comunidade.Algumasembarcações fazem o trajeto entre as ilhas completamente lotadas deestudantes. Uma delas chegou enquanto a reportagem da Agência Brasilestava na Ilha Rasa, trazendo 18 alunos das ilhas de Medeiros eMariana. Perguntados se sentem medo no trajeto entre casa e escola osalunos contam que só têm receio de viajar em dias de chuva e ventosfortes.Rhuan Matias, 9 anos, vai sozinho para a aula no barcopesqueiro do pai. Diz que é seguro, mas admite que não pode vir paraIlha Rasa se tiver chovendo. A saga dos professores não é muitodiferente da dos alunos. Para chegar à Ilha de Piaçaguera, cincoprofessores dividem o pagamento do transporte – R$ 600 por mês. Aprofessora Maísa Rodrigues conta que a viagem dura cerca de meia hora.“Mas quando os ventos estão muito fortes, dá medo e a sensação é demuito mais tempo”, conta.A coordenadora de Ensino das Ilhas, MariaElizabeth Falanga, manifesta preocupação com a precariedade dessasembarcações. De acordo com ela, a maioria dos barcos não é segura epossui apenas algumas adaptações feitas pelos pescadores, comocobertura e bancos.Ochefe do Departamento da Diversidade da Secretaria Estadual deEducação, Wagner do Amaral, garante que essa situação tem prazo para acabar. Segundo ele, o governo do estado jáautorizou a liberação de verba para a compra de novos barcos, maisadequados, seguros e equipados com pequenas bibliotecas para uso dosestudantes durante as travessias. Segundo ele, a expectativa é que as embarcações já estejam disponíveis para os estudantes no início de 2010.