Pesquisa sobre a desigualdade racial na mídia e na Agência Brasil

18/12/2009 - 8h10

Paulo Machado
Ouvidor Adjunto da EBC
Brasília - O leitor MauricioCardoso escreveu para esta Ouvidoria após ler a matériaGrandes jornais e revistas reproduzem posiçõescontrárias a ações afirmativas para negros,publicada dia 20 de novembro: “Não sei se a falha éda pesquisa ou da matéria, mas me esclareçamuma coisa: se 22% das matérias publicadas nos jornais sãocontra as politicas afirmativas de política racial e 15% sãoa favor, o que acontece com as restantes 63%, que por sinal sãoa maioria e, consequentemente, devem determinar a posiçãodos jornais em relação à causa. A mesma falha deraciocínio ocorre em relação às revistas.Eu, francamente, nãoentendi. Se vocês entenderam, me expliquem.”AAgência Brasil respondeu que: “Os percentuais de 22% e 15%se referem somente às políticas de reparação.A pesquisa tratou de 'cotas nas universidades,reconhecimento de direitos quilombolas, açõesafirmativas, Estatuto da Igualdade Racial, diversidade racial ereligiões de matriz africana'. Esses temas (e nãoapenas as políticas de reparação) é querepresentam os 100% do objeto da pesquisa.”Areferida matéria tratou da maneira como jornais e revistas degrande circulação cobrem as ações e odebate de assuntos relativos ao combate à desigualdade raciale foi baseada na análise feita pelo professor VenícioLima publicada em sua coluna no site da Agência CartaMaior, dia 17 de novembro, sob o título Agrande mídia e a desigualdade racial (*).Aocontrário do que supostamente pensou o leitor, o universo dapesquisa não tratava apenas de posições da mídiacontra ou a favor das politicas afirmativas de igualdade racial,apesar de ser essa uma das possíveis interpretaçõesda maneira como a informação foi passada pela matériada ABr. A resposta daAgência sereferiu a isso mas não esclareceu que as estatísticasforam tiradas de um gráfico, presente na matéria dopesquisador, e omitido na matéria da ABr.Daí decorre a dificuldade dos leitores em compreender ouniverso e as porcentagens apresentadas. Nográfico, cujo título é Frequênciadas Construções de Sentido Agrupadas(%)os percentuais se referem aos assuntos observados e suas abordagenspelos jornais pesquisados (Folha de S.Paulo, O Estado deSão Paulo e O Globo). Apesquisa provavelmente cruzou e agrupou mais de uma informaçãopara chegar aos números a que chegou. Ou seja, trata-se de umaavaliação quantitativa e ao mesmo tempo qualitativa dasabordagens sobre os dez assuntos mais importantes da questãoda igualdade racial. Do universo de 100% das reportagens e/ou artigosopinativos analisados: 22% delas trataram de politicas afirmativascom posições editoriais contrárias a elas, 16,6%debateram o racismo, 15,8 % trataram de açõesafirmativas em curso, 15% tiveram uma abordagem favorável àspoliticas afirmativas, 10,8% trataram da cultura e da religião,7,4% abordaram reivindicações de direitos, 6,6% deentraves às ações afirmativas, em 2,2% delas ofoco foi a SEPPIR, 1,7% diziam que as ações afirmativasprecisam de mais debate e 1,2% foram sobre a Conferência deDurban.Comoo próprio nome do gráfico salienta, os dados procuramrefletir como os jornais (ou revistas retratadas em outro gráfico)constroem o sentido da informação segundo as posiçõespoliticas e ideológicas que defendem de maneira velada ouexplícita em artigos opinativos e reportagens. Portanto, paraentender essas estatísticas e compreender os gráficosilustrativos o leitor precisa de informações de como osdados foram coletados, o que procuraram medir e qual a metodologiaempregada. Se visualizando os gráficos, a sua leitura ecompreensão são bastante difíceis, na matériada Agência, semos gráficos, esse entendimento e essa compreensão sãoquase impossíveis.Atéa próxima semana.(*)- matéria original em:http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4475