Negros querem mais espaço na mídia

14/12/2009 - 17h13

Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Mais negros natelevisão, em revistas e em ensaios de moda. Além de valorizar adiversidade brasileira, a proposta é fazer com que os negros tambémsejam vistos como modelos de beleza pela sociedade, ao lado de outrospadrões estéticos. Formas de provocar mudanças capazes defavorecer essa visão foram temas do Seminário de Estética eNegritude no Brasil Contemporâneo, hoje (14), no Rio de Janeiro.“Falta sensibilidadedos donos da mídia no Brasil para que abandonem o conceito estéticoeuropeu”, afirmou o ministro da Igualdade Racial, Edson Santos, naabertura do evento, na sede da Associação Brasileira de Imprensa(ABI). “A maioria da população brasileira é de negros, masvivemos em uma cultura onde esse padrão estético não éestimulado.”Durante o seminário, adoutora em filosofia Helena Teodoro explicou que, devido a umprocesso histórico de dominação cultural, os próprio negros nãoconseguem perceber que, muitas vezes, estão “valorizando aestética do outro”. “Os valores colocados se relacionam comalguma coisa que está fora de você [negros]”.Segundo Helena, asorigens da desvalorização da estética da negritude decorre de umasérie de teorias e ciências que se originaram na Europa, durante oprocesso colonizador e que classificaram outras culturas comoinferiores. “Essas estéticas [africanas] foram consideradasmenores por muito tempo”, explicou.Para reverter essasituação, Helena sugere uma melhor divulgação sobre o processocivilizatório no país, a diáspora e a cultura negra, com foco nareligiosidade. “Isso é básico e fundamental”, afirmou. “Temosum modelo em que a religião não está apartada do resto, como natradição judaico cristã”.O antropólogo daUniversidade Federal Fluminense (UFF) Julio Tavares, que tambémparticipou do debate, lembrou que as teorias derivadas da eugenia(ciência que pesquisa o aprimoramento genético da espécie humana)ainda predominam no contexto atual e são espalhadas cotidianamentepelos veículos de comunicação e pela indústria cultural,responsáveis por difundir modelos de beleza na sociedade.Para acelerar mudançasque favoreçam a estética do negro, Tavares defende açõesafirmativas nas produções de filmes, novelas e seriados, como éfeito nos Estados Unidos. “Não pode ser só uma mudançaquantitativa, mas de representação de formas diferentes do belo. Não é apresentar simplesmente mais negros, mas modelos estéticosdiferenciados”, disse ele.O Encontro de ArteNegra – Seminário de Estética e Negritude no Brasil Contemporâneoreúne artistas, intelectuais e estudantes. O encontro vai até apróxima quarta-feira (16), com uma série de debates na AssociaçãoBrasileira de Imprensa (ABI), no centro da capital fluminense.