Moradores fazem protesto contra megaconstrução no centro do Rio

14/12/2009 - 14h51

Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Representantes da Associação de Moradores do Centro (Amac)reuniram-se na manhã de hoje (14) na Rua dos Inválidos,centro do Rio, para protestar contra a falta de fiscalização de umaobra da WTorre Engenharia que teria provocado uma série derachaduras em imóveis vizinhos e que causou a interdição de váriosimóveis na mesma rua na última quinta-feira. Odiretor da Amac, Fernando Bandeira, disse que a associação não écontra as obras, apenas exige das autoridades competentes umacompanhamento rigoroso das escavações que vêm causandotranstornos desde que foram iniciadas há cerca de um ano. “Desdejaneiro deste ano reclamamos com a prefeitura do barulho constante daobra, da poeira e lama nas ruas e nos bueiros devido às escavações.Nada foi feito. Agora com esse problema das rachaduras, tememos que outrosprédios na área sejam afetados”.Apenas o edifício denúmero 22 permanece interditado e a maioria dos cerca de 30moradores desabrigados estão hospedados num hotel no centro custeadopela WTorre, segundo o advogado dos moradores, Antônio MoreiraFernandes Junior. Ele disse que está aguardando o laudo final daDefesa Civil para entrar com um processo contra os responsáveis pordanos materiais e morais causados aos seus clientes. A DefesaCivil informou que o laudo só sai em 15 dias úteis. O órgão vemmonitorando os edifícios afetados e não foram identificado novosdeslocamentos.Comerciantes locais queixam-se de que as vendascaíram 80% desde que a rua foi parcialmente interditada. “Nunca,nos 43 anos que tenho minha loja aqui, tive tanto prejuízo. Não seio que fazer”, lamentou Elio da Costa, dono de uma loja demateriais elétricos. Uma liminar concedida na sexta-feirapassada pelo Tribunal de Justiça paralisou a obra. A W Torreinformou que vai recorrer da decisão. O empreendimento será o maioredifício comercial da América Latina, segundo a construtora, e aprevisão é de que seja alugado para a Petrobras. Asescavações atingem 22 metros de profundidade no terreno. A áreaocupa todo o quarteirão que abrange a Rua dos Inválidos, do Senado,a Avenida Henrique Valadares e a Travessa Dídimo. O engenheiro eempresário Jackson Pereira, que atua há mais de duas décadas naárea central do Rio, disse que nesse tipo de escavação, a terra éretirada e é feito um muro para que seja possível escavar com maisprofundidade.“Este muro é acortina atirantada, sustentada por tirantes de concreto injetadosverticalmente na parede da escavação por muitos metros. São essestirantes que afetam a área de influência, como vimos na igreja enos prédios. No caso da rua dos Inválidos, também tem importânciao lençol freático bombeado. A retirada dessa água provocou aacomodação do terreno”, disse o engenheiro.ARua dos Inválidos está inserida na Área de Proteção do AmbienteCultural da Praça da Cruz Vermelha, que faz parte do centrohistórico da cidade, e possui construções do século 19.“Asconstruções antigas são fundadas em pedras enterradas no chão. Asparedes são de tijolo maciço ou de areia com óleo de baleia. Oandar superior se sustenta sobre vigas de peroba do campo, de perobarosa. São muito fortes. Tanto que o prédio interditado tem 22andares, é de meados do século passado e está mais distante daobra do que os sobrados ao redor do canteiro de obras”, disse oengenheiro.