Antes de deixar o governo, presidente do Chile quer rediscutir Lei de Anistia

12/12/2009 - 11h07

Renata Giraldi
Enviada Especial
Santiago (Chile) - A dois meses e meio dedeixar o governo, a presidente do Chile, Michelle Bachelet, sinalizouque vai intensificar os esforços para aprovar no Congresso Nacionalcinco projetos voltados ao respeito dos direitos humanos. Uma daspropostas defendidas por Michelle prevê a revisão da Lei deAnistia. A história políticachilena sempre traz a lembrança de 17 anos de ditadura militar e asatrocidades praticadas nesse período, como mortos e desaparecimentode ativistas políticos. O tema ainda inspira debates.Tanto que o assuntodominou, na semana que antecedeu as eleições de amanhã (13), osdiscursos nos palanques dos quatro candidatos à sucessão deMichelle Bachelet. Houve acusações de oportunismo e ânimosacirrados.O novo motivo dadiscussão foi a ordem da Justiça determinando a prisão de seissuspeitos de envolvimento no assassinato do ex-presidente EduardoFrei Montalva (1964-1970), pai de Eduardo Frei Ruiz, um doscandidatos ao Palácio do Governo. Montalva teria sido envenenado porordem dos militares, com apoio de alguns civis.O embaixador do Brasilno Chile, Mário Vilalva, afirmou à Agência Brasil que ostemas sobre direitos humanos e anistia têm um tratamento especial nasociedade chilena. “São assuntos delicados e que merecem destaquee atenção de todos. Assim como ocorre no Brasil, o Chile buscaampliar o debate e adotar as medidas sugeridas pelos organismosinternacionais”, disse.A disputa pelo Paláciode La Moneda, a sede do governo federal no Chile, envolve o candidatoda oposição Miguel Sebastián Piñera, da coligação Alianza(centro-direita); o ex-presidente Eduardo Frei Ruiz, da coligaçãoConcertación (de Michelle Bachelet); o independente MarcoEnriquez-Ominami Gumucio e Jorge Arrate (da aliança Juntos PodemosMais), ambos da esquerda. Frei Ruiz aproveitou aprisão dos suspeitos de assassinar seu pai para defender mudançasna Lei de Anistia (1978). Também usou uma fotografia em tamanhonatural de seu pai no último comício como homenagem às vítimas daditadura. No mesmo dia, Michelle Bachelet esteve na cidade de Hornosde Lonquén, onde foram encontradas 11 ossadas de desaparecidospolíticos, na década de 70.Em Hornos de Lonquén,a presidente homenageou os familiares das vítimas da ditadura –ela mesma se inclui nesta relação, uma vez que seu pai, militar eligado ao regime do ex-presidente Salvador Allende, foi perseguidopelo general Augusto Pinochet e acabou morrendo naquele período –e prometeu apressar às discussões dos projetos referentes aosdireitos humanos.As projeções indicamque as eleições no Chile vão para o segundo turno – cujoencerramento será em 17 de janeiro. Portanto, o tema dos direitoshumanos continuará em discussão, segundo analistas políticos.Nesta última etapa da campanha, os candidatos reagiram de maneirasdiferentes ao assunto. Para Piñera, o ideal seria não rever a Leide Anistia no momento, porque poderia dividir opiniões. Ominamiconsiderou a retomada do debate um oportunismo por parte de FreiRuiz.