Travestis cobram presença do governo em seminário sobre violação de direitos humanos

09/12/2009 - 21h21

Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiross - O penúltimo dia do 16º Encontro Nacional de Travestis e Transexuais (Entlaids) foi marcado pela ausência do governo federal no principal debate do dia, que discutiu o processo de violação dos direitos humanos e civis da categoria. Os participantes cobraram explicações, principalmente da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH), que não enviou nenhum representante à discussão.Integrante da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), Cláudia Ramos lembrou que um dos objetivos do encontro é debater formas de combater a violência em diversas áreas. “Precisamos nos qualificar, ampliar o debate. Este é um espaço importante, de formação, que não está sendo utilizado. Fazer uma roda de conversas entre nós, é mais fácil, mas queremos discutir para ter respostas”, afirmou. “As travestis pagam impostos, votam. Não somos um ser de outro mundo”.A representante da cidade de Campinas (SP), Janaína Lima, 34 anos, foi mais longe e acusou a SEDH de descaso. Para ela, a sociedade não quer apenas patrocínio para seus eventos. “Não adianta apenas colocar a logo[marca]. Como você vai debater, apresentar propostas se a secretaria não se faz presente? Fica claro que não existe uma prioridade”, criticou. Janaína também cobrou a participação de pesquisadores e acadêmicos da área de direitos humanos, que faltaram ao debate.A SEDH esclareceu que um representante foi enviado ao primeiro dia do Entlaids. Ele, no entanto, não teve como permanecer no evento por causa de outro compromisso. “Lamentei”, afirmou em nota o coordenador do Programa Brasil Sem Homofobia, Eduardo Santarello, destacado para o evento. “Seria um ônus por um lado [não acompanhar o evento até o fim], mas não representava nosso descompromisso com as travestis e transexuais. Pelo contrário, somos apoiadores do evento e promovemos ações que incluem as suas demandas.”Entre os principais convidados para a discussão de hoje, mas que também se ausentou, estava a coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, Sílvia Ramos. A socióloga justificou a ausência, à Agência Brasil, alegando que já tinha um compromisso. “Para que eu deixe de ir a um encontro desse nível é porque tenho razões muito importantes”, declarou.Mesmo sem a presença de representantes de movimentos e órgãos de direitos humanos, os travestis trocaram ideias de como ampliar o campo de atuação profissional e combater a homofobia, principalmente nos postos de saúde e escolas. Elas sugerem a capacitação de gestores, com o objetivo de sensibilizar para utilização do nome social (o nome feminino escolhido por elas e não o masculino da carteira de identidade).Uma das representantes do segmento no Conselho Nacional de Segurança Pública (Conasp), órgão do Ministério da Justiça, Fernanda Benveutty, destacou o combate à “transfobia institucional”. “Travestis sofrem mais exatamente por parte dos operadores da segurança, como os policiais. Essa não é só uma questão do Estado. Nós sofremos essa violência e é lá que tentaremos mudar a realidade”.