Enchentes em SP são resultado de modelo antiquado de drenagem, dizem especialistas

09/12/2009 - 21h00

Bruno Bocchini
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - As enchentes na cidade de São Paulo, ocorridasnos meses de maior quantidade de chuvas, são resultado de ummodelo antiquado de drenagem das águas, de urbanizaçãoe de ocupação inadequadas das várzeas dos rios.A opinião é de dois especialistas ouvidos pela AgênciaBrasil.Segundo o arquiteto e professor da Universidade deSão Paulo (USP), Paulo Pellegrino, a cidade estáinsistindo na utilização de um modelo de concentraçãoe transferência de águas muito concentrador eacelerador, o que impossibilita a infiltração no solo. “Você cria uma situação de concentrar o fluxodas águas das chuvas e quer conduzir toda essa água porsuperfícies impermeáveis até um ponto final.Quando chega lá embaixo, é um dilúvio. Esse éo modelo antigo, que você tinha no século passado”,afirmou.De acordo com Pelllegrino, outras cidades do mundo jáestão agindo no sentido de trazer os córregos para o seu leito original erefazer as áreas naturais ou verdes a fim de facilitar o escoamento ea absorção da água pelo solo. “Juntamente como propósito de você ir reduzindo a quantidade de águaque corre rapidamente para o fundo do vale”, analisou.Oarquiteto e urbanista do Instituto Polis, Kazuo Nakano, explica que oproblema está centrado no modelo de urbanizaçãoe ocupação inadequados das várzeas dos rios. “O Tietê, o Pinheiros e o Tamanduatei eram rios demeandro [com curvas acentuadas]. A gente pegou um rio que era todocurvilíneo, canalizou em uma linha reta. Transformou um rio demeandro em um canal, e urbanizou as margens desse rio”, disse.Como modelo aplicado, as águas das chuvas passam a escoar pelosrios com maior velocidade, o que não possibilita a absorçãopelo solo. “A gente acelerou a velocidade dessas águas.Quando chove, a água escorre muito rápido por essescanais e, como está tudo impermeabilizado, a terra nãoabsorve. E aí inunda”, afirmou.A soluçãoapontada pelo urbanista é corrigir gradativamente a ocupaçãodas proximidades dos rios e liberar espaço para o soloabsorver as águas. “A gente vai ter que ir reformulando ojeito de ocupar as margens desses rios e córregos, lugar porlugar, onde der para implantar um parque linear, onde der para agente liberar o solo para fazer ele respirar, para fazer ele entrarno círculo das águas das chuvas. Essa vai ser a nossaúnica solução no longo prazo”.De acordo com o Centro deGerenciamento de Emergências de SP (CGE), ontem (8), choveu 75,8 milímetros (mm) emmédia na cidade, o equivalente a 37,7% da médiaprevista para dezembro, que é de 201,0mm. Decorridos apenasoito dias do início do mês, São Paulo járegistrava um acumulado médio de 143,1mm, que reflete em 71,2%da média para o mês. Desde a fundaçãodo CGE, em 1999, o maior volume de chuvas foi registrado em 24 demaio de 2005, com 76,2mm. O índice desta terça-feira (8)passa a ser o segundo maior nos últimos 10 anos.Ogovernador do estado, José Serra, reafirmou hoje (9) que houvefalhas no sistema de drenagem da Usina de Traição, queregula a vazão das águas do Rio Pinheiros. “Oequipamento não funcionou quando foi acionado. Mas mesmo quetivesse, sem dúvida haveria enchentes por causa do grandevolume das chuvas".