Chilenos não se esquecerão da ditadura mesmo se direita vencer eleições, diz embaixador

08/12/2009 - 19h00

Renata Giraldi
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Às vésperas das eleições presidenciais no Chile, as diferençaspercentuais entre os três candidatos são mínimas. Pesquisas de opiniãoindicam que há chances de a coligação de centro-direita retornar aopoder, depois de 20 anos de redemocratização do país, que viveu uma dasditaduras mais violentas da América Latina. As pesquisas mostram aindaque a popularidade da atual presidente, Michelle Bachelet, não serásuficiente para dar a vitória a seu candidato.Nos últimosdias, o debate esquentou com a possibilidade de revisão da Lei deAnistia. O embaixador do Chile no Brasil,Álvaro Díaz, negou que a eventual vitória Miguel Sebastián Piñera, dacoligação Alianza (centro-direita), ameace os avanços alcançados em seupaís e na América Latina. Para o diplomata, ao assumir ogoverno, se vitorioso, Piñera deverá manter algumas ações jáefetivadas e não poderá fugir de discussões, como a questão da Lei deAnistia. “No Chile ninguém esquece o que se passou. Ninguém esqueceu oque houve no Chile [no período do governo militar, de 19973 a 1990]”, afirmou Díaz,em entrevista à Agência Brasil. “Não acredito que Piñera vá dilapidar seu patrimôniopolítico fazendo bobagens”, acrescentou o embaixador. Pesquisas recentes mostram que o empresárioPiñera têm a maioria das intenções de voto, seguido pelo ex-presidente EduardoFrei, da coligação Concertación (esquerda), de Bachelet, e Marco Enriquez-Ominami Gumucio,independente (que era ligado à Concertación).Segundo Díaz, independentemente de quem será o vitorioso nas eleições do próximo domingo (13),as relações com o Brasil vão ser mantidas como uma prioridade degoverno. Se houver segundo turno, será em 17 de janeiro. "Os quatro candidatos disseram que têm admiração pelopresidente Lula [Luiz Inácio Lula da Silva]. Eles disseram ter muita simpatia por ele”, afirmou Díaz. O embaixador ressaltou o fato de a atual presidente, Michelle Bachelet, mesmocom 80% de popularidade, demonstrar dificuldades para fazer seusucessor. Ele atribui ao fator “autonomia” do eleitorado umeventual fracasso do ex-presidente Eduardo Frei nas urnas. “Os chilenos distinguem quem é apresidente e quem é o candidato. As pessoas que apoiam a presidente não apoiamnecessariamente o candidato [dela]. São dois estilos distintos. Há ummomento de desgaste envolvendo a coligação Concertación [há 20 anos no poder]. O desafio é como fazer essa renovação.” Díaz aponta odesgaste e o racha interno na Concertación como fatores que explicam o surgimento do chamado fator supresa nas eleições,que é o deputado Marco Enríquez-Ominami Gumucio, independente, de 36anos, que aparece em terceiro lugar nas pesquisas de opinião. “Houveuma divisão na aliança Concertación e ele se desligou. É um candidatodiferente, que apresenta novas propostas [Ominami mostra-se arrojadopara os padrões chilenos em defesa do casamento entre pessoas do mesmosexo e do direito ao aborto em situações específicas]”, disse odiplomata. Para o embaixador, a definição das eleições deverá ficar para o segundo turno. “Ao que tudo indica, haverá segundo turno. Aí é uma novaeleição. Em caso de segundo turno, as forças estarão polarizadas entreos que apoiam a centro-direita e os que defendem a manutenção no poderda esquerda”. disse ele.