Projeto de transformação de lixo em energia pode ser estendido a todo o país

05/12/2009 - 11h41

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Pesquisadores da Coordenação deProgramas de Pós-Graduação de Engenharia (Coppe) daUniversidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) querem aumentar aeficiência energética da Usina Verde, que funciona desde2004 na Ilha do Fundão, na zona norte da cidade. O objetivo éampliar a capacidade de produção de energia da usina.

O projeto, da iniciativa privada,teve a parte de tecnologia aprimorada pela Coppe e trabalha com aincineração de lixo urbano, destruindo os gasescausadores de efeito estufa na atmosfera, além de transformarem energia quase todos os resíduos sólidos recebidos. O pesquisador Luciano Basto, do Instituto VirtualInternacional de Mudanças Globais (IVIG) da Coppe, coordenadordo projeto Usina Verde, disse à Agência Brasil que aideia é “tentar aumentar a escala e ajudar que se torneuma realidade no Brasil”.

Ele informou que a Usina Verde jáfaz isso em pequena escala. O sistema, porém, estácapacitado para gerar o dobro de energia atual que é usadapara autoconsumo. Com as 30 toneladas de lixo tratado querecebe por dia, provenientes do aterro sanitário da Companhiade Limpeza Urbana (Comlurb) no Caju, a Usina Verde tem potênciade 440 quilowatts (kW). Se funcionasse em tempo integral, issorepresentaria cerca de 3.500 megawatts/hora (MWh) por ano, o queseria suficiente para abastecer 1.500 residências.

Luciano Basto salientou que esse éum projeto piloto. Uma unidade comercial teria cinco vezes essetamanho. Estimou que para 150 toneladas/dia de resíduossólidos, poderia ser gerada energia suficiente para abastecer8 mil residências.

Segundo o pesquisador, a ideiado grupo privado que administra a usina é desenvolvertecnologia para ser comercializada. A Coppe auxilia no processo.Esse tipo de unidade trabalha com três receitas: tratamento delixo, comercialização de energia elétrica etérmica e créditos de carbono.

Nos últimos seis meses, aUsina Verde passou por uma auditoria do Bureau Veritas, escritóriointernacional de certificação, para se habilitar areceber créditos de carbono, isto é, bônus negociáveis em troca da não poluição domeio ambiente. Basto informou que durante esse período, a usinacomprovou a redução de 2 mil toneladas de emissõesde gás carbônico das 30 toneladas de lixo recebidas por dia. Isso dá uma média de meia tonelada de gás carbônico por tonelada de lixo tratado.

“Significa dizer que qualquerusina que venha a ser instalada pode pleitear créditos [decarbono]”. Basto lembrou que o prefeito do Rio, Eduardo Paes,definiu metas para redução das emissões nacidade, destacando transporte e lixo como áreas importantes detrabalho com essa finalidade. “Tratar o lixo, gerando eletricidadeé uma forma de resolver três fontes de mitigação.Uma delas é o lixo. A outra é a queima de combustíveisfósseis para gerar eletricidade e a terceira é odiesel que se consome para transportar o lixo até os aterros”.

A Coppe prestaassessoramento técnico a qualquer grupo privado que queira implementar usinas para incineração de lixo etransformação em energia, utilizando tecnologialimpa. O pesquisador destacou que existem mais de mil usinas dessetipo funcionando em todo o mundo. “Para se ter uma ideia, ageração elétrica a partir do lixo, em 2006, foiequivalente ao consumo de eletricidade pelo setor residencialbrasileiro em 2007”.

Naquele ano, o consumo das famíliasno Brasil atingiu 90 milhões de MWh. Basto explicou que a energiagerada a partir do lixo representa entre 3% e 4% das matrizesnacionais. “Mas todo o lixo que foi utilizado para gerareletricidade no mundo em 2006 equivaleu ao que as residênciasbrasileiras consumiram em 2007, o que é algo significativo”.

Luciano Basto espera que atéo terceiro trimestre de 2010, o Centro Tecnológico da Coppeconclua o sistema de aumento de eficiência da Usina Verde,visando ao melhor aproveitamento do calor gerado, com menosinvestimentos. “Dispor de muito mais eletricidade. Então,passa a haver mais receita”, afirmou.