Para professor, lentidão da Justiça ajuda a aumentar práticas de corrupção

05/12/2009 - 11h05

Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Amorosidade com que a Justiça julga a utilização de recursos decaixa 2 para financiamento de campanhae outros crimes praticados no meio político é um dos principais fatoresdo sentimento de “impunidade” que faz com que os políticos multipliquemo número desses esquemas. A opinião é do cientista político daUniversidade de Brasília (UnB) João Paulo Peixoto. Para ele, só comuma reordenação profunda das relações institucionais da Repúblicaquestões como essa serão resolvidas.Partidos como o PT, PSDB eDemocratas (DEM) convivem com denúncias e investigações de prática derecebimento de dinheiro ilícito para campanhas. No caso do DEM, episódio mais recente,  a Operação Caixa de Pandora, da PolíciaFederal, mostra um esquema supostamente coordenado pelo governador doDistrito Federal, José Roberto Arruda, de pagamento de propina recebidade empresários para serem repassadas a políticos locais.Gravaçõestornadas públicas na semana passada mostram declarações de que parte dacúpula nacional do PMDB seria beneficiária na divisão dessesrecursos. João Paulo Peixoto afirmou à Agência Brasil que osentimento de impunidade pela demora judicial dos processos e a faltade condenação efetiva acabam por generalizar a prática.Nessesentido, o professor ressaltou que, no processo de reordenamentode competências das instituições brasileiras – Executivo, Legislativo e Judiciário –, se faz necessário que o governo e o Congresso assumama responsabilidade de promover uma ampla reforma política que nãopasse apenas por mudanças na legislação realizadas ao sabor deinteresses em ano pré-eleitoral.A falta dessa “vontadepolítica” tem feito com que o brasileiro, no decorrer dos anos,questione cada vez mais as instituições e seus representantes o que, para o professor, é sério problema para a democracia. “Odescrédito da atividade política não é só no Congresso Nacional, é deforma geral, nos partidos e na atividade governamental. Para que serveo governo e o que se promove efetivamente de políticas públicas?” questionaJoão Paulo Peixoto sobre o momento vivido.A dimensão da crisede credibilidade, de acordo com o cientista político, faz doBrasil um país peculiar. “Decididamente o Brasil não tem uma atividadepolítica à altura do desenvolvimento econômico que tem alcançado”. Isso faz, segundo ele, com que o país conviva com uma“assimetria” que vincula uma prática política de terceiro mundo comresultados na economia, que o levam a ser respeitadomundialmente.As mudanças necessárias para reverter essasituação passam por uma mobilização definitiva das autoridadespúblicas, acrescentou Peixoto. “O ideal, pela legitimidade epopularidade que tem, seria o presidente Lula propor essas mudanças aosrepresentantes dos demais poderes. Para isso, é preciso ter vontadepolítica”.O cientista político Otaciano Nogueira, professoraposentado da UnB, é mais cético quando trata doassunto. Na sua opinião, o problema é cultural e a solução está vinculadadiretamente à melhoria da consciência política do eleitorado.Nogueiranão acredita que a classe política como um todo possa promover mudançasque levem a um Judiciário menos “moroso e leniente” com a corrupção oucom as alterações nas relações entre os poderes.“Não se podequerer que políticos beneficiários de um sistema mudem alguma coisa. É opovo que tem que se educar”, destacou Nogueira.