Setor público precisa assumir compromisso com a redução das emissões, diz Abemc

03/12/2009 - 18h15

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A administração públicabrasileira já deveria ter assumido uma postura mais pró-ativana questão do aquecimento global, afirmou hoje (3) opresidente da Associação Brasileira das Empresas doMercado de Carbono (Abemc), Flávio Gazani.

Em entrevista à AgênciaBrasil, ele disse que mesmo os Estados Unidos, maior poluidormundial, responsável por 25% das emissões globais, jácomeçam a apresentar uma mudança de postura em relaçãoao tema, com a nova gestão do presidente Barack Obama.

“Já tem muitos estados emunicípios (norte-americanos) que fizeram seus inventáriosde emissões, estabeleceram metas e estão buscandoreduzir as emissões. Estou falando de órgãos daadministração direta e indireta “, afirmou.

Segundo ele, no Brasil, apenas oestado de São Paulo apresentou a primeira iniciativa deelaborar um inventário de emissões. “Existe uma faltade compromisso da administração pública e dopaís como um todo em assumir a nossa mea-culpa”, analisouGazani. Entre os países desenvolvidos, não ratificaramo Protocolo de Quioto, além dos Estados Unidos, a Nova Zelândiae a Austrália.

Apesar disso, Gazani estáotimista em relação ao resultado das negociaçõesque ocorrerão durante a 15ª Conferência das NaçõesUnidas sobre Mudanças Climáticas (COP-15) emCopenhague, na Dinamarca , entre 7 e 18 de dezembro.O encontroobjetiva elaborar um acordo em substituição aoProtocolo de Quioto, cuja vigência termina em 2012.

Embora o presidente Luiz InácioLula da Silva e a chanceler alemã Ângela Merkel tenhamafirmado hoje que não se deverá chegar a um “acordoideal” na COP-15, Gazani assegurou que “toda e qualquer tentativade salvar o resultado final da conferência é válida”.

Segundo ele, a convergênciadas atenções do mundo para essa conferência vaisensibilizar a sociedade mundial com relação àseriedade do problema das mudanças climáticas. “Agente tem maiores chances de que os governantes assumam posturas maisresponsáveis. À medida em que há a participaçãopública, a possibilidade de demonstração devontade política aumenta”.

Gazani disse que observa comsatisfação os governos do Brasil, da França eAlemanha engajados nesse esforço de encontrar uma saídapara o problema do aquecimento global “até porque existe umanecessidade premente de que um novo acordo ou a continuaçãodesse acordo seja atingido logo, para que não haja umainterrupção no compromisso assumido em Quioto, nem nasiniciativas que já vêm contribuindo de alguma forma paraa mitigação das mudanças climáticas”.

A proposta brasileira de reduzir asemissões entre 36,1% e 38,9% até 2020, em relaçãoaos níveis de 2005, foi considerada audaciosa pelo presidenteda Abemc. “E coloca o Brasil em uma posição deliderança ante outras nações emdesenvolvimento”.

Gazani ressaltou, contudo, que asmetas estabelecidas pelo governo brasileiro são voluntárias.Isso significa que não há, ainda, a intençãodo Brasil de assumir metas mandatórias, como foi feitoanteriormente pelos países desenvolvidos.

Para estimular a reduçãodas emissões no Brasil, em especial aquelas oriundas dodesmatamento, Gazani sugeriu que todos os meios de financiamentosejam direcionados a projetos ou iniciativas que visem reduzir odesmatamento, principalmente na Amazônia. “Nós temoshoje cerca de 40% das florestas tropicais do mundo”.

Ele defendeu que seja instituídoum sistema misto, em que fundos de governo e fundos privados possaminvestir nessas iniciativas de redução de emissões,aceitando a inclusão de mecanismos de mercado, como osprojetos de mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL), que geremcréditos de carbono e tenham um valor no mercado internacional“para que essas iniciativas venham ocorrer de fato e o mais rápidopossível”.

O mercado voluntário decarbono é relativamente pequeno, se comparado ao mercadoregulado pelo Protocolo de Quioto. Ele representa 2,9% do mercadoregulado em termos relativos. Em faturamento, a participaçãoé de 0,6%. O mercado global de carbono faturou no ano passadocerca de US$ 126 bilhões, enquanto o mercado voluntárioregistrou um total de US$ 700 milhões.

Para Gazani, a participaçãonesse mercado voluntário de carbono pode ser interessante paraas empresas brasileiras, porque os créditos voluntáriossão mais baratos. Os projetos não têm que passarpelo mesmo processo de aprovação do mercado regulado.