CPI defende criação de cadastro nacional de crianças e adolescentes desaparecidos

03/12/2009 - 19h21

Luiz Augusto Gollo
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Depoisde ouvir hoje (3), durante mais de cinco horas, em audiência pública na Assembleia Legislativa da Bahia, parentes de menores desaparecidos, a presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Crianças e Adolescentes Desaparecidos, deputada Bel Mesquita (PMDB-PA), voltou a insistir nacriação de um cadastro nacional e na definição de políticas públicaspara enfrentar o problema.“Apesar de tantas pessoas imbuídas nabusca de soluções, não temos uma política de garantia às crianças eadolescentes. Por isso, as famílias não encontram apoio nas instânciasoficiais”, disse a deputada, ao defender a instituição do CadastroNacional de Crianças e Adolescentes Desaparecidos pela sociedade, e nãono âmbito do governo. O projeto de lei criando o cadastro aguardasanção presidencial.Em sintonia com as preocupações dapresidente e dos membros da CPI, que já seguiram para outra audiênciapública, amanhã (4), em Natal, a criadora doMovimento Nacional de Busca e Apoio a Pessoas Desaparecidas SimonePinho, Josenilda Ribeiro Lima, também falou na audiência em Salvador: “Épreciso dizer que não temos nenhum apoio de governo na nossa ação. EstaCPI é boa e já vem até atrasada, mas ela deveria tratar também dodesaparecimento de adultos, e não só de crianças e adolescentes”,afirmou.A filha de Josenilda, Simone Lima Pinho, de 26 anos, saiu de Salvador em junho de2000 para as festas juninas nos Lençóis Maranhenses e não voltou. Nabusca de pistas, ela apelou à polícia de Salvador, que não pôde fazernada e a encaminhou a Lençóis, onde policiais maranhenses tampoucotomaram providências, sob o pretexto de que Simone era maior de idade.“[Os policiais] me trataram com o maior descaso, e aí eu vi que tinha que lutar sozinha”, lembrou. Em setembro de2002, Josenilda criou o movimento que tem o nome da filha e começou a reunirpessoas em situação semelhante à sua: “Hoje temos 2.862desaparecimentos cadastrados e, destes, 620 desaparecidos foramlocalizados, vivos ou mortos”.Em abril de2005, por uma reportagem na televisão, Josenilda soube da prisão, noPará, de José Vicente Matias, o “Corumbá”, assassino confesso de seismulheres, três delas estrangeiras. Ele dizia ter feito um pacto com o diabo e que teria de matar sete mulheres, e pelo que disse na tevê, ela resolveu ir ao seu encontro.“Lá,a polícia copiou uma foto da minha filha pela internet e ele confirmouque tinha matado ela com duas pedradas, bebido o sangue e comido osmiolos”. Mas o horror de Josenilda se prolongou por mais oito meses,até conseguir que a polícia levasse o assassino ao local onde a ossadade Simone foi encontrada, numa cova rasa no mato.A trágicahistória de Josenilda Ribeiro Lima é vista como exceção no rol dosdesaparecimentos, já que Simone foi vítima de um insano, mas de todaforma se insere no contexto da luta pela criação do cadastro e daconscientização da polícia em todos os níveis sobre a gravidade doproblema, segundo parlamentares da CPI.“A formação dessa consciência é necessária para que possamos combater de fato o desaparecimento. Para se ter umaideia, a maior parte dos desaparecimentos é de crianças, das quais 85%são encontradas. Destas, cerca de 70% fugiram por causa de conflitosfamiliares, o que indica a urgência de uma política voltada de fatopara a origem do problema”, concluiu a presidente da CPI.