Jovens gays cariocas pedem mais políticas públicas específicas de prevenção à aids

27/11/2009 - 19h38

Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O aumento da aids entre homossexuais de 13 a 24 anos, segundo estudo divulgado ontem (26) pelo Ministério da Saúde, é resultado da falta de campanhas e ações públicas direcionadas especificamente para adolescentes e jovens. O alerta é do integrante do grupo Arco-Íris de Cidadania LGBT, Cléber Gonçalves, que participou hoje (27) do 1o Encontro Carioca de Jovens LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais).“A principal diferença [na abordagem entre as faixas etárias] é a linguagem e as estratégias que se utilizam para a prevenção. Pessoas mais velhas têm uma taxa de infecção declinante, enquanto que os jovens têm esse índice ascendente. Isso exige metodologias alternativas e inovadoras que revertam esse quadro”, afirmou Cléber. Para ele, os adolescentes e jovens estão mais suscetíveis ao contágio porque a maioria não presenciou o drama do início da epidemia, na década de 80, além de cultivar a crença de que os novos medicamentos, em forma de coquetel, tornaram a doença quase inofensiva.“Nós acreditamos que esse fenômeno tenha ocorrido por uma ruptura geracional. As pessoas mais velhas sofreram o pior aspecto da aids. Viram muitas pessoas se infectarem e morrerem por conta do HIV. Os jovens surgem pós-coquetel e começam a ver a aids com uma certa naturalidade. Existe uma banalização da doença e, com isso, uma maior negligência em relação ao uso do preservativo”, alertou Cléber, que dentro do grupo Arco-Íris coordena o projeto Entre Garotos, direcionado especificamente para jovens gays e bissexuais.Ele lembrou que embora o coquetel anti-aids realmente prolongue a vida do portador de HIV, existem efeitos colaterais severos, que comprometem a qualidade de vida.A contaminação por HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis também está aumentando entre as mulheres jovens, segundo alertou Marcelle Esteves, coordenadora do projeto Laços e Acasos, que reúne lésbicas e bissexuais, também ligado ao grupo Arco-Íris.“Existe essa falácia de que lésbicas e bissexuais são super-mulheres, que não transam com homens na maioria das vezes, e se sentem livres de todas as doenças. Isso não é verdade, porque elas também se contaminam”, disse Marcelle.O encontro foi realizado na sede da prefeitura do Rio, cidade considerada como um dos principais destinos gays do mundo, por sua diversidade e tolerância. Para o representante da coordenadoria de Saúde municipal, Fernando Zikan, isso aumenta ainda mais a responsabilidade do poder público na questão.“O prefeito Eduardo Paes, na última Parada Gay, propôs a criação de um comitê de atenção ao público LGBT, ligado ao gabinete dele”, lembrou Fernando. Segundo a assessoria da prefeitura, no entanto, ainda não há prazo definido para a criação do novo comitê.