Protestos contra Ahmadinejad dividem especialistas

23/11/2009 - 19h26

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Apassagem do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, pelo Brasil temgerado protestos por parte da sociedade civil que critica a intolerância sexual no país e anegação feita pelo líder iraniano da existência do Holocausto na Segunda Guerra Mundial,quando morreram 6 milhões de judeus vítimas do nazismo. Mas há tambémmanifestações de apoio de grupos que veem no líder iraniano uma figura de oposiçãoà política imperialista norte-americana.Na opinião do cientistapolítico e professor Samuel Feldberg, os protestos são justificados uma vez que Ahmadinejad "vem de um processoeleitoral contestado por amplos setores da sociedade iraniana”. Segundoo intelectual, que é do do Núcleo de Pesquisa em RelaçõesInternacionais da Universidade de São Paulo (USP), “o Brasil queretomou o processo democrático há poucos anos, depois de sofrer umperíodo extenso de ditadura, não deveria receber um presidente quenão consegue demonstrar que foi eleito democraticamente”.“Amaioria dos protestos no Brasil foi organizada por grupos que sesentem ofendidos pela recepção com todas as honras de chefe de Estadode um líder que declaradamente não reconhece os direitos das minoriasno seu país”, declarou Feldberg à Agência Brasil.A professoraWalquíria Leão Rêgo, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas daUniversidade Estadual de Campinas (Unicamp), defende o direito legítimode manifestação, protegido pela Constituição Federal, no entanto,aponta que há equívoco nos protestos. Segundo ela, “é preciso saberdistinguir as relações de Estado e entre pessoas”. A acadêmicalembra que o Brasil mantém relações diplomáticas com o Irã e com outrospaíses que são acusados de violar direitos humanos. “O Estado deIsrael massacra os palestinos, desrespeita todos os direitos, inclusivecom violência contra crianças e estupro em mulheres. Os Estados Unidosmantém a prisão de Guantánamo. Na década de 1990, o ex-presidenteFernando Henrique Cardoso recebeu o ditador Alberto Fujimori[ex-presidente do Peru sobre quem hoje pesam acusações de corrupção egenocídio] e o presidente Lula recebeu o [ex-presidente dos Estados Unidos] George Bush.”Para o coordenador nacional da Comissão Pastoral da Terra(CPT), Dirceu Fumagalli, a sociedade brasileira se comporta de maneira “anestesiada”quando se trata da violação de direitos humanos de alguns setores dapopulação do próprio país. Ele lembra, por exemplo, que o trabalhoescravo, “uma violação horrorosa dos direitos humanos”, persiste emtempos de democracia institucionalizada.De acordo com relatório divulgado hoje pela CPT, de janeiro até 15 de novembro desteano, há uma manutenção da situação de violência no campo. Houve noperíodo 20 assassinatos, 231 ocupações, 731 conflitos, 1.321expulsões e 9.226 despejos.