Publicidade de bebidas afeta crianças e adolescentes, diz pesquisadora

22/11/2009 - 13h16

Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Apesar de as bebidas alcoólicasserem legalmente destinadas apenas a maiores de idade, a publicidadedesses produtos atinge também as crianças e osadolescentes. A constatação é de um estudorealizado pela pesquisadora da Unidadede Pesquisas em Álcool e Drogas (Uniad), IlanaPinsky. “Se isso [propaganda] é feito jápensando em atingir esse público[menores de idade], eunão posso afirmar. O que eu sei é que ele atinge, atraie é interessante”, afirmou em entrevista à AgênciaBrasil.

Mesmo com o endurecimento das normas estabelecidas pelo ConselhoNacional de Autorregulamentação Publicitária(Conar), Pinsk disse que a publicidade de bebida, em especial ada cerveja, é muito atraente aos jovens. “Se você forobservar os elementos da publicidade de cerveja , que é a quemais tem na área de propaganda de bebidas alcoólicas,ela é extremamente bem humorada, mostra sempre pessoas bonitase jovens. Ela não fala do produto em si, mas dos sonhos e doestilo de vida relacionado à alegria e às festas, o quetudo tem a ver com o jovem”, afirmou.

Por isso, a pesquisadora aponta paraque a propaganda de bebida leva o jovem a “um início maisprecoce, a um consumo mais pesado e às ideias mais positivasem relação a beber”. Quanto mais cedo se começaa beber, maiores as chances de desenvolver a dependênciaquímica, conforme a pesquisa realizada pelo Centro deReferência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas de SãoPaulo (Cratod). O estudo apontouque 40% dos jovens atendidos se iniciaram no uso de drogas entre os 7e os 11 anos idade. Desses, 38% começaram pelo álcool.

“Quantomais atrasar o consumo de álcool, melhor para a saúdedele [jovem]e melhor para a relação que ele vai ter com a bebida”,disse o presidente do Centro de Informações Sobre Saúdee Álcool (Cisa), Arthur Guerra. Segundo ele, o uso precoce dedrogas está associado ao consumo excessivo de álcoolque pode levar a uma “alteração no comportamento” efazer com que o jovem se exponha a riscos.

Entretanto,Guerra é cauteloso ao relacionar o consumo precoce apublicidade. “É um assunto tão sério que nósdeveríamos ter dados objetivos, números concretos que agente pudesse falar: 'olha, a propaganda está levando tantosjovens a beber mais cedo' ”, afirmou.

Parao procurador Fernando Lacerda, a publicidade interfere em umprocesso de escolha que deveria estar sujeito somente ao juízode cada um. “Justamente porque é uma decisão pessoal,eu acho que tem que ser a mais livre possível. E a publicidadeinterfere nessa decisão, ela influencia principalmente ojovem, que ainda não tem uma formação pessoalsólida”, disse.

Eleé o autor das ações que pedem indenizaçãodas fábricas de cerveja pelos danos causados àsociedade e ao patrimônio público devido ao aumento doconsumo induzido pela publicidade. Em uma delas, ele pede R$ 2,764bilhões, calculados com base nos gastos em saúde dogoverno federal com doenças e traumas relacionadas ao consumode bebida alcoólica. “O pedido é que por conta daindústria de cerveja investir maciçamente empublicidade ela implica no aumento de consumo e no aumento dessesdanos”, afirmou.

ParaIlana Pinsky, a propaganda ideal deveria destacar apenas a qualidadedo produto sem fazer associações ao estilo de vida ou adiversão.