Projetos sucroalcooleiros com recursos do BNDES afetam organização de comunidades indígenas

22/11/2009 - 18h11

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Os empreendimentos sucroalcooleirosfinanciados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico eSocial (BNDES) estão segregando as populaçõesindígenas em Mato Grosso do Sul, afirmou àAgência Brasil a diretora-presidente do InstitutoBrasileiro de Inovações Pró-Sociedade Saudável(Ibiss), Estela Scândola.Ela denunciou que as comunidadesindígenas estão sendo afetadas pelo plantio da cana emtorno de seus territórios e pela participaçãodos índios na atividade de corte da cana. Com as grandesdestilarias, o impacto se torna decisivo na vida dessas comunidades,enfatizou. ”Há uma intervençãodireta no modo de vida, que esgarça todo o sistema de proteçãosocial existente na comunidade, porque os homens saem para o trabalhoe você tem um novo padrão de organizaçãointerna que imputa às mulheres uma alta responsabilidade emmanter a comunidade”, disse.O segundo impacto negativo estárelacionado com a presença acentuada do plantio da cana noentorno das comunidades. “Esse entorno, de forma decisiva, impactaas comunidades, seja pelo agrotóxico, seja pela ausênciade biodiversidade, seja pela contaminação dos rios”,afirmou.Em consequência, há oagravamento da exploração sexual de crianças eadolescentes, além do esfacelamento dos núcleosfamiliares, e a ocorrência crescente de casos de alcoolismo noretorno dos trabalhadores indígenas das destilarias. “Elesretornam às comunidades muitas vezes em situaçãobastante degradante”, salientou. Integrante da rede de 30 organizaçõesda sociedade civil denominada Plataforma BNDES, o Ibiss participará,a amanhã (23), no Rio, do 1º Encontro Sul-Americano dePopulações Afetadas pelos Projetos Financiados peloBNDES.Estela Scândola reivindicou queo banco deve ser co-responsável nos financiamentos queconcede. Segundo ela, a instituição tem de estabelecerexigências para a concessão dos empréstimos àsempresas e também fiscalizar o cumprimento dessas normas.“Isso não tem acontecido. O banco repassa dinheiro para asgrandes empresas e elas não têm responsabilidade com ascomunidades no entorno dos empreendimentos”, disse. A trabalhadora rural Irene, domunicípio de Rio Brilhante, será uma das representantesdo Ibiss no encontro. Durante o evento, ela contará como oassentamento ficou sitiado no meio da cana e dos animais em fuga queinvadiam a localidade. Além disso, a pulverizaçãoaérea afetou todo o sistema de plantio de alimentos nosassentamentos. Estela Scândola insistiu em quecabe ao BNDES impor as condições socioambientais paraas empresas que pleiteam o financiamento. “Porque essas duascondições acabam mudando completamente as condiçõesde vida dessas comunidades”. Ela afirmou que não porcoincidência, a maioria dos empreendimentos está indopara os lugarejos. “São pequenas localidades que mudamcompletamente a forma de organização”. Em Mato Grossodo Sul, existem 45 acampamentos indígenas que lutam pela áreade retomada de terra, sem falar nas comunidades que vivem em áreasdemarcadas, disse a presidente do Ibiss.