Falta de políticas públicas favorece consumo excessivo de álcool pelos jovens, diz especialista

22/11/2009 - 11h52

Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Dificilmente haveráuma inversão na tendência atual dos jovens de beberem cadavez mais cedo e em maior quantidade, afirmou o secretário deDependência Química da AssociaçãoBrasileira de Psiquiatria, Marco Antonio Bessa. Para quem, a falta de políticas públicas é um agravante do problema. Consultadopela Agência Brasil, o Ministério da Saúde nãodetalhou quais seriam as estratégias de prevençãoao uso de álcool no Brasil.

“Essesnúmeros [de jovens que bebem] vem aumentando no Brasil.A tendência está se consolidando. Nós nãotemos nenhuma perspectiva de melhora porque não existe nenhumamedida efetiva do governo” disse Bessa em entrevista à AgênciaBrasil. Segundo ele, atualmente o consumo de bebida alcóolica, em média, começa por volta dos 12 anos de idade. Há 20 anos essa iniciação ocorria aos 16 anos.

Para aprofessora de Serviço Social da Universidade Federal dePernambuco, Roberta Uchoa, os jovens estão bebendo mais cedo emfunção da mudança nos padrões desociabilidade. “As formas de sociabilidade e de ocupaçãodo tempo livre estão cada vez mais submetidas ao mercado”,afirmou.

Roberta Uchoa,que é doutora em sociologia das drogas, disse que existe umapressão social para o consumo desenfreado. De acordo com a pesquisadora, a indústria vem estimulando o consumo relacionando-o ao prazer e à diversão. “Nesses últimos 20anos os jovens vem sendo estimulados a consumir qualquer coisa otempo todo. Os jovens são alvo das indústrias em gerale particularmente da indústria de bebidas alcoólicas”.

Elachama a atenção para o incentivo ao consumo em grandesquantidades, ainda que ocasional, nas propagandas. “É muito difícilpara um jovem distinguir em uma propaganda de televisão, comaquelas figuras em que eles se espelham fazendo farras homéricas,e no final aparece [um aviso de] 'beba moderadamente'. Há uma dupla mensagemdo que seja beber moderadamente”, afirmou.

Essetipo de ingestão excessiva, aponta Raquel Uchoa, coloca o jovem emrisco. “Seja dirigindo um carro, sejaatravessando a rua como pedestre, os nossos jovens estão secolocando em situação de risco”, disse.

Outro problema causado pelo álcool, segundo a pesquisadora, é que aembriaguez também leva o jovem à prática de sexo sem proteção,com a possibilidade de contrair doenças e levar à gravidez indesejada, “A gente sabe quequando bebe a gente relaxa no nossos cuidados nas atividades sexuais.Deixa de usar a camisinha, não se toca se está aoperíodo fértil ou não”, afirmou Raquel Uchoa.

Para MarcoAntonio Bessa, os jovens, alterados pela bebida,estão mais propícios a praticar e a sofrer violência. De acordo, com ele, muitos doscasos de estupro são praticados por garotos bêbadoscontra meninas também embriagadas. Além disso, segundo ele, com adiminuição do senso crítico os rapazes e as moças ficam mais suscetíveis a usar outrassubstâncias além do álcool. “O fato do jovemconsumir a bebida alcóolica diminui o seu senso crítico,diminui a sua capacidade de raciocínio, e ele fica muito maisvulnerável à experimentar outradroga”, afirmou.

A buscapor sensações mais intensas é outro fator, deacordo com o especialista, que torna a bebida um caminho para o usode outros entorpecentes. “Então, é por isso que oálcool funciona como um fator de altíssimo risco para ouso de outras drogas. Existe ainda o fator ambiental: os traficantes jáestão nos lugares onde eles consomem álcool oferecendooutras drogas".