Mães denunciam maus-tratos em unidade de jovens infratores no Rio de Janeiro

17/11/2009 - 17h13

Flavia Villela e Vitor Abdala
Repórteres da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Um grupo de mães e parentes de jovens infratores do Educandário Santo Expedito, em Bangu, zona oeste do Rio de Janeiro, protestou hoje (17) contra supostas agressões que os internos estariam sofrendo na unidade. Antigo presídio localizado próximo ao Complexo Penitenciário de Bangu, o  Santo Expedito foi transformado, em 1997, em unidade para adolescentes infratores.Maria Virgilina Neto, avó de um interno que está no Santo Expedito desde fevereiro, disse que seu neto reclamou que um agente agrediu-o na semana passada com uma paulada na cabeça. “Todas as mães estão reclamando que seus meninos estão todos sendo espancados.”Janaína Souza dos Santos contou que seu filho, internado no Santo Expedito há seis meses, também sofreu agressão e humilhação. “Meu filho falou que teve um dia que eles ficaram em um chão molhado das dez da noite  às cinco da madrugada. Deixaram ele sem roupa, no chão, pelado. Ele levou paulada e estava todo roxo. A mão dele está machucada, porque um agente deu uma paulada e ele tentou se defender com a mão. Poxa, estão fazendo uma covardia tremenda com os meninos aqui.”Outra mãe, Solange Viana Francisco, conta que, na última visita de pais à unidade socioeducativa, seu filho pediu para que ela tentasse fazer algo para interromper as agressões. “Ele falou: ‘mãe, a gente está sendo muito esculachado aqui, faz alguma coisa’. Eles estão apanhando muito. Às dez  [da noite] não pode ter nenhum barulho. Eles [os agentes] entram e batem neles. Se algum adolescente arrumar confusão, apanha todo mundo”, disse.O presidente do Conselho Estadual de Defesa da Criança e do Adolescente e coordenador da ONG Projeto Legal, Carlos Nicodemos, diz que, por ter sido um presídio, o Santo Expedito não tem condições de funcionar como uma unidade socioeducativa e lembra que a Justiça já determinou o seu fechamento em fevereiro deste ano.O Santo Expedito é uma das unidades do Departamento de Ações Socioeducativas do estado do Rio de Janeiro (Degase), que mais teve rebeliões nos últimos anos. Segundo Nicodemos, apenas neste ano foram oito. “Daí a necessidade da elaboração de um plano de ação que encerre as atividades do Santo Expedito, porque o seu formato de presídio só tem fomentado rebeliões, que resultam em tortura e agressões contra os próprios adolescentes”, disse.O próprio Sindicato dos Servidores do Degase (Sind-Degase) divulgou uma nota em abril deste ano, posicionando-se a favor do fechamento do Santo Expedito, por considerar que ele não funciona como unidade socioeducativa e que coloca em risco os próprios agentes que ali trabalham. A assessoria de imprensa do Degase foi procurada pela Agência Brasil para esclarecer as denúncias, mas, até o fechamento desta reportagem, não havia se pronunciado.