Estados Unidos desestabilizam ordem mundial pós-Muro de Berlim, diz professor

15/11/2009 - 11h00

Lísia Gusmão
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A queda do Muro de Berlim, que completou 20 anos em 9 de novembro,e o colapso da União Soviética levaram os Estados Unidos aassumir a liderança mundial, ocupando o espaço deixado pelaEuropa e que as Nações Unidas não foram capazes de preencher. Oprofessor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB),Virgílio Arraes, avalia que esse abandono do multilateralismo e as ações intervencionistas emoutros países marcaram a política externa norte-americana, levando à perda de confiança no sistema internacional. “Se considerarmos a Guerra Fria, os EstadosUnidos venceram três guerras mundiais em 75 anos, mas não foram capazesde derrotar o Afeganistão e o Iraque nos últimos anos. Passaram da liderança eufórica àperda de confiança”, afirmou Arraes, em um seminário sobre a queda doMuro de Berlim, promovido pela UnB, na semana que marcou as duas décadas de derrubada.Segundo ele, desde os ataques terroristas de 11 de setembro de2001, a atuação dos Estados Unidos “desestabiliza” a ordem que elespróprios desenharam. “Em 1989, quando o símbolo da Guerra Friadesmoronou, não houve uma reunião para discutir a feição que teria omundo. Qual seria a arquitetura financeira e política? Assim, nenhumoutro país atuou com tanto desembaraço fora do seu próprio território.”Mas, para o professor de RelaçõesInternacionais, a “perda de confiança” dos Estados Unidos deixa umalacuna. “Qual é o papel da Europa? Mínimo. A China não substituirá osEstados Unidos. E a ONU [Organização das Nações Unidas] não assumirá esse papel”, previu.Namesma linha, o diplomata Paulo Roberto Almeida considera que a Europaatua como um “pequeno protagonista” na ordem internacional estabelecidadepois da queda do Muro de Berlim. Ele aposta, no entanto, naintegração europeia que avançará ao Leste, podendo abarcarex-repúblicas socialistas.“A geração que assumiu o poder naAlemanha com a [chanceler Angela] Merkel  não tem compromisso como passado. Nenhuma espécie de remorso. O futuro é a integração, que terá a Alemanha como centro de convergência.”