Documentos sobre construção do Muro de Berlim mostram incertezas de soviéticos

15/11/2009 - 11h25

Lísia Gusmão
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Em meio àscomemorações pelos 20 anos da queda do Muro de Berlim,historiadores relembram as primeiras e as últimas horas domaior símbolo da Guerra Fria. Documentos inéditosrevelam em detalhes os momentos decisivos da construçãoe do desmoronamento do Muro de Berlim, que dividiu o mundo entrecapitalistas e socialistas durante 28 anos.Na avaliaçãodos líderes da União Soviética, a construçãode um muro para impedir a crescente fuga de alemães daRepública Democrática Alemã, satélitesocialista, era arriscada. Segundo o professor da Universidade deHeidelberg, Edgar Wolfrum, 3,5 milhões de pessoas fugiram dazona de ocupação soviética da Alemanha para olado ocidental entre 1945, quando terminou a Segunda Guerra Mundial,e 1961, ano da construção do Muro de Berlim.“Moscou começoua se preocupar. Se o posto avançado que representava arepública democrática caísse, a UniãoSoviética poderia perder também a Polônia e aEuropa Oriental inteira. Contudo, tapar o buraco poderia significar afalência do sistema e o fracasso ideológico dosocialismo”, explicou Wolfrum, durante o seminário AlémMuro, promovido pela Universidade de Brasília (UnB) na semanapassada, quando se comemorou os 20 anos de queda do muro.Essas eram as dúvidasque cercavam as lideranças soviéticas e da repúblicademocrática até que o “sim definitivo” chegou deMoscou a Berlim Oriental, em 6 de julho de 1961. Na madrugada do dia13 de agosto, uma estrutura ainda precária de cimento e aramefarpado foi levantada no que, anos depois, viria a ser o praticamenteintransponível Muro de Berlim. Para o diplomata PauloRoberto de Almeida, a incapacidade de atender às necessidadesbásicas de abastecimento foi determinante para a queda do Murode Berlim e o desaparecimento do “socialismo real”. “O Muro nãocaiu. Foi derrubado pela população alemã”,sustenta Almeida, que participou do seminário na UnB. “Quandoacabou, o socialismo era economicamente medíocre,financeiramente marginal, e agregou muito pouco ao PIB [ProdutoInterno Bruto] mundial. Em Berlim, acabou a ideia de uma economiacentralizada.”Segundo o professor deRelações Internacionais da UnB Virgílio Arraes,o “verão comunista” durou 70 anos até que os paísessocialistas do Leste Europeu abraçaram a democracia liberal. Acrise econômica mundial de 2008, para Arraes, descortina uma“visão sombria”. “A ausência de opçõespolíticas e econômicas viáveis faz com que nãohaja uma tentativa de se mitigar os efeitos mais deletérios doliberalismo. As diferenças serão acentuadas.”