Número de mortes em confronto com a polícia supera homicídios em três regiões do Rio

06/11/2009 - 16h40

Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Três áreas do Rio deJaneiro tiveram, neste ano, mais mortes causadas por policiais do quepor criminosos. As regiões de São Cristóvão/Mangueira, GrandeTijuca e Copacabana/Leme registraram mais autos de resistência(mortes em supostos confrontos com a polícia) do que homicídiosdolosos (quando há intenção de matar), entre janeiro e setembro de2009, segundo dados do Instituto de Segurança Pública do Rio (ISP).Nos bairros de SãoCristóvão, Mangueira e Caju, região que engloba o 4º Batalhão dePolícia Militar (BPM) e a 17ª Delegacia de Polícia Civil, foramregistrados dez homicídios dolosos contra 11 autos de resistência.Na Grande Tijuca, áreaatendida pelo 6º Batalhão da Polícia Militar e pelas 18ª, 19ª e20ª delegacias, foram 35 mortes provocadas pela polícia, contra 32assassinatos.A região em que ofenômeno é mais evidente é a área de Copacabana e Leme, do 19ªBPM e das 12ª e 13ª delegacias. Uma das zonas que mais concentramturistas no Rio, Copacabana e o bairro vizinho já haviam apresentadosituação semelhante em 2008.No ano passado, nadamenos do que 17 mortes haviam sido causadas pela polícia, contraapenas três assassinatos. Nos primeiros nove meses deste ano,o fenômeno se repetiu, com 11 autos de resistência, dois a mais queos nove homicídios dolosos.Para o cientista sociale ex-coronel da PM Jorge da Silva, o número elevado de autos deresistência é resultado de uma política de confronto. “É umfilme que todos já vimos. Morrem bandidos, policiais, supostosbandidos, crianças e senhoras. E ainda há quem ache que o caminho éesse.”Silva responsabiliza ogoverno do estado pelas mortes. “A política do atual governoacentua uma tendência repressiva, característica de nossasociedade. Parte de uma premissa falsa, a de que o confronto armado émeio eficaz para oferecer segurança e tranquilidade à população.Não difere muito das [gestões] anteriores”, afirma Silva.Professor daUniversidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), ex-secretárioestadual de Direitos Humanos (2003-2006), ex-presidente do ISP (2003)e ex-corregedor das polícias do Rio (2003), Silva diz que tentarresolver questões sociais, como a violência, só com a polícia, éum erro.“[Isso] tambémleva muitos policiais ao túmulo. No fundo, são todos vítimas deequívocos políticos. A polícia não tem a capacidade de removercausas e fatores... No máximo, nas circunstâncias, enxuga gelo”,explica o especialista, que nasceu no Complexo do Alemão.A Secretaria deSegurança do Rio não soube informar o motivo pelo qual essas trêsregiões tiveram mais mortes provocadas pela polícia do quehomicídios. Sobre as críticas à política de segurança do estado,a assessoria da secretaria disse, por meio de nota, que “respeita odireito de expressão de todo cidadão” e, por isso, nãocomentaria os argumentos apresentados por Silva.Se analisado o estadodo Rio de Janeiro como um todo, verifica-se uma proporção de doisautos de resistência para cada 11 homicídios dolosos, já que, nasoutras regiões, os assassinatos superam os autos de resistência.Em áreas como a Barrada Tijuca, por exemplo, sequer foram registradas mortes provocadaspela polícia nos primeiros nove meses deste ano. De janeiro asetembro deste ano, ocorreram 805 autos de resistência e 4.460assassinatos no estado.