Especialista alerta para problemas psicológicos infantis gerados por confrontos armados no Rio

06/11/2009 - 8h38

Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Os confrontos entre policiais e criminosos ou entre ospróprios criminosos, rotineiros nas favelas do Rio de Janeiro, gerammais transtornos do que as mortes ou as conhecidas “balasperdidas”. Problemas como o medo, a insônia e até distúrbios deaprendizagem, que atingem principalmente crianças e adolescentes,são outros resultados dessa violência cotidiana.A opinião é da especialista em saúde de crianças e adolescentesEvelyn Eisenstein, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidadedo Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e da Sociedade Internacional paraa Prevenção de Abuso e Negligência contra Crianças (Ispcan, nasigla em inglês).Segundo ela, os problemas psicológicos gerados nas crianças pelosconfrontos armados são quase invisíveis para a mídia, mas aparecemcada vez mais nas unidades de saúde do Rio de Janeiro.“As crianças estãoà mercê de tudo isso que elas estão vivenciando, não só naprática, no tiroteio diário em cada bairro, mas também através damídia e das repercussões”, afirma.Evelyn Eisensteinafirma que um dos problemas enfrentados pelas crianças é o medo,junto com a sensação de estarem sendo ameaçadas e sem proteção,o que gera estresse e insônia. Em consequência, podem aparecertambém distúrbios de aprendizagem e problemas na escola, como aevasão e o atraso escolares.“Sem contar quandoela está em plena aula e a interrompe por causa de um tiroteio”.A interrupção de aulas e o fechamento de escolas têm sido comunsno Rio de Janeiro. Na última terça-feira (3), pelo menos 13 milalunos da região de Vila Kennedy, na zona oeste, ficaram sem aulaspor causa de confrontos entre criminosos e policiais.Ontem (5), tiroteiosdurante uma operação policial deixaram 4 mil alunos sem aulas naregião de Acari e Costa Barros, na zona norte.Nesta semana, aSecretaria Municipal de Educação do Rio chegou a anunciar umprojeto de capacitação de professores para acalmar alunos durantesituações de crise, como incêndios, acidentes ou confrontosarmados.A sensação deabandono e o uso de drogas podem ser outras consequências davivência cotidiana em meio a esses conflitos. A longo prazo, ascrianças e adolescentes passam a aceitar a violência como umaprática comum, num processo de banalização dessa violência.Segundo ela, aintensificação dos confrontos armados no Rio, que já duram mais deduas décadas, é hoje um reflexo da violência que ocorreu nosúltimos anos.“Esse homens que hojese confrontam, sejam policiais, milicianos ou traficantes, foramcrianças e adolescentes algum dia. Se eles tivessem aprendido o queé paz, se tivessem expectativa de futuro ou até mesmo melhorrendimento escolar, não estaríamos com a violência que temos hojeem dia. Temos que interromper esse ciclo, para que ele não continuese reproduzindo”, afirmou.Para interromper esseciclo, explica a especialista, é preciso que desde já hajainvestimentos em programas de prevenção da violência, em vez derecorrer simplesmente ao confronto policial. Esses programas, afirmaEvelyn Eisenstein, devem ser não só para a Olimpíada de 2016, maspara o futuro da cidade.