Ascensão social alimenta mercado consumidor e mantém economia aquecida, dizem especialistas

05/11/2009 - 18h21

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A ascensão social de 19,5 milhões de brasileiros nosúltimos três anos, verificada pelo Instituto dePesquisa Econômica Aplicada (Ipea), diminuiu osefeitos da crise internacional sobre a economia brasileira. O movimento ampliou o mercado consumidor e, assim, fez girar umcírculo virtuoso de aumento de demanda, produtividade eemprego.Segundo Rogério César de Souza, do Instituto de Estudos para Desenvolvimento Industrial (Iedi), foram esses fatores de ascensão social que colocaram o Brasil em condição favorável neste ano, quando comparado a outros países. “E isso ébom para a indústria em particular”, diz, citando o consumo de alimentos e da construçãocivil. O Iedi reúne as maiores indústrias brasileiras.O economista do Iedi lembra que a indústria sofreu muitocom a diminuição de exportações, durante o auge da crise internacional, mas“cresce de forma contínua se valendo do mercado interno”. Alémdo setor industrial, os bancos comemoram a expansão dasatividades financeiras ocorridas a partir do aumento das pessoas com renda na faixa intermediária. Segundo dados da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), entre 2005 e 2008o número de contas correntes passou de 95 milhões para125,7 milhões. As contas de caderneta de poupança saltaram de 71,8milhões para mais de 92 milhões. O total decartões de crédito no período teve o maiorcrescimento: passou do patamar de 68 milhões para 124 milhões. O diretor de Estudos e Políticas Sociais doIpea, Jorge Abrahão de Castro, diz que a “elevaçãodesse conjunto grande de pessoas no mercado” se dátambém com a diminuição das desigualdadessociais. Para ele, a sustentabilidade do movimento depende damanutenção da política de ganhos salariaisefetivos, de políticas sociais que favoreçam aincorporação o produtores e pode ser incrementada com adiminuição dos juros.Atrajetória de ascensão apontada pelo Ipea poderá também repercutir nas eleições geraisdo próximo ano. Para o cientista político AlbertoCarlos Melo de Almeida, o processo já é verificado háalgum tempo e não favorece diretamente nenhum candidato, masinfluencia a pauta eleitoral. “Haveráo tema da melhoria de vida, mas em outro patamar.” Segundo Almeida, oeleitor vai querer mais ascensão de renda nos próximos anos. “A sensaçãode insatisfação pode aumentar entre as pessoas quemelhoraram sua condição de vida”, avalia. Para ele, aaquisição da casa própria e de um automóvelpodem alimentar sonhos de consumo dos setores emergentes dapopulação.A participação da populaçãona base da pirâmide social (pessoas com rendimento individualde até R$ 188) diminuiu cerca de 23%, de acordocom o estudo do Ipea. Sete em cada dez pessoasque ascenderam são do Sudeste e Nordeste. Apesar do avanço,a Região Nordeste concentra a metade dos brasileirospertencentes ao primeiro estrato social.