Oferta de unidades para congelar sangue do cordão umbilical deve crescer no país

03/11/2009 - 6h16

Marli Moreira
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Até 2011, o Brasil deve ampliar em quatro vezes a atual capacidade da rede pública de armazenamento do sangue retirado do cordão umbilical. O material serve de fonte de células-tronco para transplante de medula óssea, tratamento indicado na cura de doenças que afetam o sangue como, por exemplo, leucemia e linfoma.Segundo informações do Instituto Nacional do Câncer (Inca), vinculado ao Ministério da Saúde, a meta é aumentar a oferta, estimada hoje entre 12 mil e 13 mil bolsas, para um total de 50 mil.De acordo com a assessoria de imprensa do Inca, os Bancos Públicos de Sangue de Cordão Umbilical e Placentário (BSCUP) que formam a rede Brasilcord serão expandidos por meio de um programa a ser desenvolvido com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).A unidade mais recente, de Santa Catarina, ainda não foi inaugurada oficialmente, mas já está em funcionamento. As demais são as do próprio Inca, onde foi aberto o primeiro banco do país em 2001, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, no interior paulista.Dados do Inca indicam que as chances de o receptor brasileiro encontrar um doador com características genéticas compatíveis dentro do próprio país são 30 vezes maiores do que no exterior.Para a geneticista do Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo (USP), Mayana Zatz, o Brasil, no entanto, deveria ter também uma rede pública de armazenamento para conservar, além do sangue, o próprio tecido do cordão umbilical “que é muito mais rico em células-tronco”. Ela lembra que para guardar o sangue coletado do cordão umbilical, as pessoas estão pagando entre R$ 4 mil e R$ 5 mil.Essas mesmas pessoas poderiam armazenar o próprio cordão, defende a pesquisadora, prevendo a descoberta, no futuro, de alternativas para a cura de doenças a partir desses descartes humanos e que são objeto de seu trabalho científico. O lado ruim seria deixar uma parte da população de fora desses avanços, acrescenta, justificando que nesse caso a saída seria a criação de bancos públicos.Nem todo o material preservado hoje tem aproveitamento, diz o biofísico Sérgio Verjovski, da USP, parceiro de Zatz no estudo das possibilidades de uso das células-tronco. Com base nas experiências que desenvolve, ele informou que em apenas 10% das amostras coletadas do sangue do cordão umbilical foram identificadas células-tronco, enquanto que nas paredes do tecido do cordão detectou-se uma localização plena.Na análise do sangue retirado de 60 pessoas, só em seis havia células-tronco, mas quando realizada a análise sobre as paredes do cordão, todos apresentavam essas células. Verjoviski informou ainda que as experiências indicam que o conjunto de gens encontrados pode vir a formar diferentes tecidos como neurônios, fígado, ossos e músculos, por exemplo. Caso as pesquisas em fase pré-clínica venham a atingir o resultado esperado, elas poderiam auxiliar tanto no tratamento de lesões da medula quanto em sequelas de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), regenerar músculos ou ser uma alternativa para outros casos de lesões irreversíveis em vítimas de acidentes e mesmo no mal de Parkinson.