Brasil é interlocutor preferido no continente

31/10/2009 - 13h03

Ivanir José Bortot*
Enviado Especial
Teerã (Irã) - Com um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 800 bilhões e uma população de 65,3 milhões depessoas, o governo do Irã vem conseguindo administrar avançoseconômicos e o desenvolvimento nuclear, mesmo diante das restrições decomércio impostas pelos Estados Unidos. O fato novo é o efeito da criseinternacional que derrubou os preços do petróleo, uma das principaisfontes de renda do país. O crescimento, que vinha em ritmo médio de5% ao ano desde o fim da guerra com o Iraque nos anos 80,  deve sermuito baixo em 2009. As relações de comércio com o Brasil , porexemplo, que eram da ordem de US$ 2 bilhões, devem fechar em US$ 1bilhão este ano, segundo o ministro das Relações Exteriores,Manouchehr Mottaki.  Cerca de 70% dessa população descendentede persas, com idade inferior a 35 anos, quer usufruir, no entanto, docrescimento com mais empregos, da ampliação de renda e do consumo de bens.Parte desse desejo foi manifestada nas eleições ocorridas em junho de2009. Os partidos de oposição interpretaram esse sentimento aodefender reformas pontuais, sem que nenhum deles questionasse osprincípios do islamismo, segundo apurou a Agência Brasil. No Irã, não háimpostos sobre os alimentos, mas o subsídio oficial concedidos nascontas de luz, água, gás e telefone deve ser extinto nos próximos meses. O país convive com inflação moderada, que neste ano deve ficaracima  20%. Algumas moedas em circulação praticamente não têmvalor. São necessários RIs 9,550 mil (moeda iraniana que tem nome equivalente a reais) para comprar um US$ 1 dólar. ComRIs 45,000 mil é possível comer uma pizza pequena e tomar uma coca-cola em uma lanchonete. O aluguel de um bom apartamento de dois quartos, na zonanobre de Teerã, é de US$ 600,00 ao mês. A renda média dos assalariadosde classe média fica em torno de USS 1,5 mil ao mês e o salário mínimoé de US$ 300,00.    O presidente Mahmoud Ahmadinejad, que saiudas urnas com 24 milhões de votos, 10 milhões a mais do que seuadversário mais próximo, Mir Hossein Moussavi, vem enfrentando aoposição nas ruas de Teerã, uma cidade de 12milhões de habitantes que lembra São Paulo dos anos 70. Uma dessas manifestações foi observada pela Agência Brasil. Cerca de milmanifestantes, tendo à frente o líder da oposição Mehdi Karroubi, invadiram as instalações do Centro de Eventos Mosala Eman Khomeini,onde mais de 1,5 mil jornalistas do Irã e de 35 países participavam deum encontro de imprensa e agências de notícias. Aos gritos de“abaixo a repressão” e "morte ao ditador", referindo-se ao atualpresidente, os manifestantes protestaram diante dos principais veículosdo Irã, com a Agência Fars. Eles chegaram a invadir o estande da Rússiaem protesto ao apoio daquele país ao Irã.O jornalista russo Mikhail Guser foi levado às pressas ao Hotel Laleh e só retornou ao evento no dia seguinte.Uma segunda manifestação,com cerca de 300 pessoas, ocorreu dois dias depois na área externa do MosalaEman Khomeini. Um grupo de mulheres cobrou do governo a localização deparentes presos. Uma autoridade iraniana, que não quis se identificar,admitiu que foram feitas muitas prisões durante as manifestações contra osresultados das eleições. Ele não soube dizer se havia pessoas aindapresas. O brasileiro Anderson Silva, que estava na manifestação, foium dos presos. Passou uma noite na prisão e hoje vive na Turquia. Said Laylaz, que concedeu uma entrevista ao jornalista Lourival Sant´ Anna e publicada no Estado de S. Paulo em 15 de junho de 2009, estaria preso até o momento. Santa ´Anna  disse à Agência Brasil, Laylaz achava que seria presos na época  Laylaz, economista e cientista político foi quem escreveu os discursos de campanha do candiato Mir Hossein Moussavi.    Oministro da Cultura e Orientação Islâmica do país, Mohammad Hosseini, afirmou que as manifestações observadas pelos jornalistas eram umaevidência de que há democracia e liberdade de expressão no país. “Oque há é que os europeus e estrangeiros querem impor a sua cultura. OIrã está frustrando essa invasão cultural”, disse Hosseini aosjornalistas estrangeiros reunidos em Teerã. O país tem umíndice de analfabetismo entre 2% e 3%. Cerca de 18 milhões de iranianosestão na universidade e 45% da população têm curso superior. OBrasil tem 10% da população acima de 15 anos ainda não alfabetizada e 4,88 milhões de universitários.  Hosseini disse também que, aocontrário dos americanos que querem a guerra, o Irã luta pela paz,a prosperidade, a defesa de seus valores culturais e busca pontos comunsque possam uni-lo a outros países.O Brasil é um dos países com os quais o Irã quer maior aproximação econômica e cultural. Para ovice-ministro de Assuntos da América, Alireza Salari, como seu país nãotem relações diplomáticas com os Estados Unidos, o Brasil passa a ser ointerlocutor preferido no continente. “Temos economiascomplementares. Se conseguirmos estabelecer laços duradouros, isso trarábenefícios para os nossos países”, disse Salari.  O Irã queroferecer oportunidade de negócios a empresas privadas e públicas doBrasil para maior expansão de sua economia e espera o mesmo dasautoridades brasileiras. A meta da área diplomática iraniana é elevar,em cinco anos, as relações de comércio do valor atual de  US$ 1 bilhão para US$ 15 bilhões em áreas como a produção de gás – por ser ovice-líder mundial – e de produtos petroquímicos e adubos. Odesenvolvimento da pesquisa na produção de energia nuclear é o tema quea diplomacia dos dois países mais vem trabalhando pelo interessecomum. Os iranianos conseguiram  grandes avanços na produção demedicamentos, a partir do uso da pesquisa nuclear. Segundo Salari,hoje o Irã produz 80% dos medicamentos de que necessita e desenvolveuquatro remédios inéditos. Um deles é para combater o diabetes e osoutros contra o câncer. O Brasil poderá importar esses medicamentos ouadquirir a tecnologia.  *O repórter viajou a convite do governo iraniano